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Foto do escritorJoão Jorge

Ikigai

Atualizado: 3 de out.

O conceito IKIGAI?


Dan Buettner no seu livro "Blue Zones Solution" refere que um dos ingredientes mais significativos que garante uma longevidade está relacionado com o concento de Ikigai a qual surge no Japão e evidencia a importância das questões existenciais para o sucesso e felicidade de cada um, seja na área profissional ou pessoal. Os investigadores recomendam o auto-conhecimento e a identificação da nossa paixão, missão, profissão e vocação. Não se trata apenas de viver por um longo período de tempo, mas de aproveitar a vida e saber o que se quer fazer com ela. Ikigai é um termo japonês que descreve a razão que nos motiva a levantar da cama todos os dias, ou seja, a motivação para viver.


Os alunos, ao responderem a estas questões, iniciam um processo consciente de reflexão e construção dos seus Projetos Individuais da Existência (LBSE):

Como viver uma Vida Significativa?

O que é bom para o mundo?

​Como viver uma Vida Produtiva?

​O que eu sou bom a fazer?

​Como viver uma vida Agradável?

​O que eu amo fazer?

​Como viver uma Vida Plena?

​Em que atividade eu posso ser pago?



​Bom a fazer

​Amo fazer

​Bom para o mundo

​Pago para fazer

Profissão

Sim

Sim

Vocação

Sim

Sim

​Missão

​Sim

​Sim

​Paixão

​Sim

​Sim

Questões que os alunos deverão responder:

  • De que forma um estilo de vida ativo contribui para viver uma vida significativa, produtiva, agradável e plena?

  • Em que medida a atividade física contribui para viver um estilo de vida ativo?

  • Que tipo de atividade física é mais adequada para mim em cada fase da minha vida?

  • Qual o tipo de atividade física que me motiva mais?


  • Michel Poulain, Anne Herm and Gianni Pes. The Blue Zones: areas of exceptional longevity around the world. Vienna Yearbook ofPopulation Research 2013 (Vol. 11), pp. 87–108: PDF

 

Projetos Individuais da Existência


A Lei de Bases do Sistema Educativo, apresenta a seguinte redação na alínea d) do artigo 3º:

  • Assegurar o direito à diferença, mercê do respeito pelas personalidades | pelos Projetos Individuais da Existência (PIE).

Podemos constatar que a LBSE apresenta uma "preocupação" relativamente à necessidade de orientar a ação pedagógica no sentido do Locus no Controlo Interno e também com a necessidade de permitir que os alunos procurem no seu precurso escolar, encontrar o seu sentido ou propósito de vida o que é equivalente a Ikigai (Projetos Individuais da Existência):


Qual a razão de Ser:

  1. Paixão.

  2. Missão.

  3. Profissão.

  4. Vocação

Porém, constatamos que a avaliação externa sejam as provas de aferição ou os exames nacionais, condicionam tanto os professores como os alunos, a um treino para o exame, empobrecendo a formação e reduzindo a alínea d) do artigo 3º da LBSE a uma mera declaração de intenção.


Como sempre é importante cruzar esta informação com as finalidades da EF propostas no documento "Educação Física de Qualidade":


José A. Carvalho Teixeira apresenta uma "Introdução à Psicoterapia Existencial" publicado na Análise Psicológica (2006) na página 289-309. Este autor ajuda a perceber o significado e objetivo da expressão "Projetos Individuais da Existência".


O que caracteriza a existência individual?

  • O que caracteriza a existência individual é o ser que se escolhe a si-mesmo com autenticidade, construindo assim o seu destino, num processo dinâmico de vir-a-ser. O indivíduo é um ser consciente, capaz de fazer escolhas livres e intencionais, isto é, escolhas das quais resulta o sentido da sua existência. Ele faz-se a si próprio escolhendo-se pela combinação de realidades/capacidades, possibilidades/potencialidades e está “em aberto”, ou melhor, está em projeto.

​Autenticidade

Projeto Existencial

Projeto Individual da Existência

​Responsabilidade pela autoria do seu destino e compromisso com o seu projeto

​Fazer-se a si próprio; escolha originária que o indivíduo fez de si

Finalidades da EF

​Fisicamente Literados; Participação em Atividades Físicas ao Longo da Vida

​Desafios do Século XXI; Cidadão Responsável e Ativo

​Valores

​Cuidado; Construção; Responsabilidade

​Autonomia; Liberdade

  • José A. Carvalho Teixeira. Introdução à Psicologia Existencial. Análise Psicológica (2006), 3 (XXIV): 289-309: PDF



Palavras Chave:

  1. Autenticidade: A autenticidade caracteriza a maturidade no desenvolvimento pessoal e social. A escolha é um processo central e inevitável na existência individual e a liberdade de escolher-se envolve responsabilidade pela autoria do seu destino e compromisso com o seu projeto. A liberdade de escolha não só é parte integrante da experiência como o indivíduo personifica as suas escolhas: a identidade e as características do indivíduo seriam consequências das suas próprias escolhas.

  2. Projeto Existencial: é a união, o “fio condutor” entre o passado, presente e futuro, a continuidade compreensível das vivências, coerência interna do mundo individual, que reflete a escolha originária que o indivíduo fez de si e que aparece em todas as suas realizações significativas, quer ao nível dos sentimentos, quer ao nível das realizações pessoais e profissionais. O processo de individuação opõe-se ao conformismo com as normas e papéis sociais, o que conduz a um funcionamento estereotipado e inibidor da simbolização e da imaginação. O indivíduo está comprometido com a tarefa, sempre inacabada, de dar sentido à sua própria existência.

​Locus no controlo interno

​Locus no controlo externo

​Processo de Individuação

​Conformismo com as normas e papeis sociais

​Cuidar da sua existência procurando conhecer-se e compreender-se; constrói o seu mundo dando sentido à sua existência.

​Funcionamento estereotipado e inibidor da simbolização e da imaginação

​A ação pedagógica deve facilitar a oportunidade, espaço, tempo e ritmo adequados para que a criança se construa a si própria - Auto-Regulação da Aprendizagem.

​A ação pedagógica é objetivamente uma violência simbólica enquanto imposição, por um poder arbitrário, de uma arbitrariedade cultural. Domesticação do dominado.



O Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade obrigatória, tal como a LBSE constitui uma boa matriz de trabalho. Para que seja possível criar espaço para que os alunos explorem o Ikigai teremos que adotar algumas estratégias nomeadamente:

  1. Empoderamento da Escola e do Indivíduo na Sociedade: Roberto Carneiro (2001), no seu livro “Fundamentos da Educação e da Aprendizagem” refere que “a escola em Portugal tem sido considerada um terminal burocrático do Estado. (...) será preciso resgatar a escola das garras burocráticas do Estado. E isso faz-se restituindo a escola às suas comunidades locais de pertença. (…) Desmonopolizar a educação é condição da sua desmassificação (…)”. A escola deve ter total liberdade para criar e levar por diante o modelo educativo que a comunidade quiser. (...) O modelo que eu advogo é um modelo de desmassificação e desmonopolização da gestão; de descentralização com regulação, controlo e avaliação; e de diferenciação com noção de serviço público. O modelo que eu veria mais adequado é o modelo derrogatório, comunidade a comunidade. A escola representa, de facto, para as comunidades, e em particular, para os pais, o centro de esperança e um fulcro de criação de futuro” (Roberto Carneiro, 2001). Michel Poulan e colaboradores "The Blue Zones" refere que a longevidade está associada a populações que conseguem manter um estilo de vida tradicional que pressupõe atividade física "intensa" para lá da idade dos 80 anos, um reduzido nível de stress, um apoio familiar e comunitário intensivo bem como o consumo de alimentos produzidos localmente. Roberto Carneiro refere ainda que “há anos que os responsáveis pela Educação falam dessa devolução da escola à comunidade. Mas será que o Estado consegue abrir mão de um sistema que é tão importante para o controlo da sociedade? O papel do Estado é servir a sociedade, não de a controlar”. O estado deve definir os programas mínimos. Eu defendo há muitos anos que os programas de ensino devem ter três componentes, uma componente nacional (20%), uma componente regional (30%) e uma componente local (50%)”. Na minha opinião pessoal, 80% deve pertencer à componente local e 20% nacional:

    1. Modelo Derrogatório de Roberto Carneiro "Fundamentos da Educação e da Aprendizagem" - PDF)

  2. Estilos de Ensino Centrados nos alunos (Além da Barreira da Descoberta): implementar preferencialmente os métodos ativos de aprendizagem como a discussão em grupo, realização pela prática e ensinar outros. A Aprendizagem Cooperativa presta-se muito a este propósito. O Projeto Individual da Existência é da responsabilidade de cada aluno e por isso este terá que refletir e aprender a definir objetivos e a afetar recursos orientados para IKIGAI.


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  • Niels J. Van Doesum e Dion A. W. Van Lange. Social Mindfullness: Skill and Will to navigate the Social World. Journal of Personality and Social Psychology 2013. Vol. 105, Nº 1, pp. 86-103: PDF

  • Xin Zhao e colaboradores. Leaving a Choice for Others: Children's Evaluations of Considerate, Socially-Mindfull Actions. Child Development, july/August 2021, Volume 92, Nº 4, pages 1238-1253: PDF

  • Imke L. J. Lemmers-Jansen e colaboradores. Giving others the option of choice: An fMRI study of low-cost cooperation. Neuropsychologia 109 (2018). page. 1-9: PDF

 

O que é estar-no-mundo:


A existência enquanto estar-no-mundo envolve a unidade entre o indivíduo e o meio em quatro dimensões, que são as dimensões da existência:


  • Física – É o mundo natural (Umwelt), o da relação do indivíduo com os aspetos biológicos do existir e com o ambiente e que envolve as suas atitudes em relação ao corpo, aos objetos, à saúde e à doença e no qual se exprime em permanência uma procura de domínio sobre o meio natural, que se opõe a submissão e aceitação das limitações impostas, nomeadamente pela idade e pelo ambiente. O sentimento de segurança é aqui dado pela saúde e bem-estar

  • Social – É o mundo da relação com os outros (Mitwelt), do estar-com e da inter subjetividade onde se revela e descobre o que se é, mundo que envolve as atitudes e os sentimentos em relação aos outros, tais como amor/ódio, cooperação/competição, aceitação/rejeição e partilha/isolamento. Inclui os significados que os outros têm para nós, quer sejam os familiares, os amigos ou os colegas de trabalho, significados que dependem das modalidades da nossa relação com eles. Esta dimensão relacional é uma premissa fundamental do modelo existencial (Spinelli, 2003)

  • Psicológica – É o mundo da relação consigo próprio (Eigenwelt), da existência subjetiva e fenomenológica de si-mesmo, da construção do mundo pessoal, com auto-percepção de si, da sua experiência passada e das suas possibilidades, recursos, fragilidade e contradições, profundamente marcado pela procura da identidade própria, assente na auto-afirmação e numa polaridade de atividade/passividade

  • Espiritual – É o mundo da relação com o desconhecido (Ueberwelt), que envolve uma relação com o mundo ideal, a ideologia e os valores, onde se pode exprimir o propósito da existência individual.


 

Será que a Educação Física promove valores Ikigai?


A Formação em Habilidades para a vida e participação em Atividades Físicas ao Longo da Vida (Longevidade) pede uma orientação dos objetivos e conteúdos da Educação Física no sentido do movimento funcional, para as atividades físicas de lazer, turismo de aventura, ligação profunda com a natureza e atividades físicas ocupacionais e solicita sobretudo o envolvimento comunitário cooperativo de apoio mútuo em indivíduos que desenvolvam um perfil "Givers" (Dadores) segundo a terminologia utilizada por Adam Grant.


Givers (Adan Grant "Give and Take") O perfil de personalidade que queremos promover nos jovens são a gentileza (trabalhar para o bem estar dos outros), responsabilidade (ser confiável), justiça social (apoiar os desfavorecidos) e a compaixão (ser sensível e acudir às necessiddes dos outros). Este perfil de personalidade é construido sobretudo através da Pedagogia da Cooperação e da Pedagogia da consciência.

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  • DGS. Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física 2017. Ministério da Saúde: PDF



Dawn Penny e Mike Jess "Physical Education and Physical Active Lives: A lifelong approach to curriculum development" perguntam: o que é que um estilo de vida ativo envolve exatamente?

  1. Se queremos desenvolver propostas que estabeleçam relações realistas entre a Educação Física e as agendas de Atividade Física para a população, precisamos construir uma visão clara sobre o que envolve um tal estilo de vida.

  2. Segundo, precisamos revisitar o tipo de competências, conhecimentos e compreensão necessários que os jovens precisam adquirir para manter estilos de vida ativos.

Qual é o quadro de referências que deve alicerçar o modelo de Atividade Física ao Longo da Vida (AFLV - Longevidade):

A AFLV pode ser conceptualizada como tendo quatro dimensões:

  1. Atividade Física Funcional (AFF) que responde às exigências das tarefas diárias sejam profissionais ou domésticas.

  2. Atividade Física Recreacional (AFR) enquanto lazer a qual, para muitos, é uma atividade com orientação social.

  3. Atividade Física Relacionada com a Saúde (AFRS) relacionada com a aptidão física, bem-estar e/ou reabilitação.

  4. Atividade Física Relacionada com a Performance (AFRP) a qual também está relacionada com a auto-superação e/ou sucesso nos ambientes competitivos.

Todas estas dimensões envolvem diferentes procuras de atividades, necessidades e interesses em diferentes momentos das nossas vidas - à medida que nos preparamos para, e progredimos através dos vários anos de escolaridade, entramos na vida adulta e vida ativa, passando por diferentes empregos, construindo família, avançamos na idade adulta, envelhecemos e entramos na reforma.


A questão associada à categorização das atividades físicas nestas quatro dimensões torna-se interessante mas ao mesmo tempo problemática. O assunto chave está relacionado com o propósito/objetivo de uma atividade. As atividades por si só não estão associadas com uma única dimensão. As associações podem variar pela forma como os indivíduos se envolvem em determinadas atividades por razões específicas.

Por exemplo, passear um cão pode ser visto como uma atividade funcional essencial (deve ser realizada diáriamente), porém no caso de outras pessoas também pode representar uma importante atividade relacionada com a saúde podendo ser vista como necessária e não tanto como uma tarefa. A mesma atividade também pode constituir, para outros, uma importante atividade recreativa e/ou social. É importante compreender que a mesma atividade pode estar associada com várias dimensões AFLV. Se considerarmos o treino orientado para a performance num determinado desporto, muitos irão reconhecer instâncias ou aspetos dessa atividade onde existe uma sobreposição das dimensões recreativa, relacionada com a saúde ou com o rendimento. Como tal é importante enfatizar o significado pessoal e o objetivo, enquanto aspetos chave a considerar quando classificamos as atividades nas várias dimensões dentro do que decidimos designar por AFLV.


Desta reflexão surgem algumas questões pertinentes:

  1. Até que ponto a Educação Física Escolar constitui uma fundação importante para a AFLV em todas as suas dimensões?

  2. Para além da Escola, que outras influências contribuem para a procura de atividades físicas, necessidades e interesses durante a vida?

  3. De que forma é que essas influências, necessidades e interesses se relacionam com a saúde pessoal (holistica: física, mental, social, emocional e espiritual) e até que ponto a atual Educação Física aborda estas relações de forma efetiva?

  4. Estaremos nós a olhar para o futuro confiantes que temos, ou podemos aceder a novas competências e conhecimentos relevantes que nos permitam alterar os padrões de atividade, a procura, interesses e oportuniddes?

  5. Onde, e de que forma, nós temos apoiado a participação dos outros (alunos) na atividade física? Como é que o devemos fazer no futuro? Será que a Educação nos preparou para estes papeis?

O nosso objetivo é formar aprendentes independentes ao longo da vida. Contribuir para que os jovens integrem AFLV e se envolvam em questões reflexivas relacionadas com um estilo de vida ativo leva-nos a sugerir que os currículos de EF, tal como têm sido tradicionalmente conceptualizados e organizados, destinam-se a assumir uma relevância parcial ou muito curta na vida de muitas pessoas. Embora a Educação Física nos proporcione uma boa fundação para a participação nos jogos recreativos e relacionados com a performance que muitos de nós apreciava na juventude, e que muitos ainda apreciam atualmente, estamos bastantes conscientes que isto não significa que muitos dos nossos pares sintam o mesmo. Além disso, o conteúdo e foco da Educação Física Escolar tem sido cada vez mais removido das nossas necessidades de atividade física e interesses à medida que as nossas vidas evoluem e as circunstâncias e intereses mudam. Isso não significa que a educação física escolar deva, de alguma forma, procurar abranger uma gama cada vez maior de atividades de lazer ativo para jovens e adultos, mas sim que o planeamento do currículo deve-se concentrar em habilidades e conhecimentos transferíveis.


Dito por outras palavras, os currículos devem abandonar uma metodologia centrada no ensino das matérias para se centrar numa metodologia de ensino das estratégias. Devem também, por inerência a este pressuposto, abandonar a sua dimensão prescritiva (matérias) mas ensinar os alunos a definir os seus Projetos Individuais da Existência e de que forma é que a prática de exercício físico constitui um aspeto fundamental para esse projeto. Assim os alunos devem aprender a trabalhar segundo a Metologia de Trabalho por Projetos porque a vida é um projeto em constante construção. Por outro lado, a maioria das atividades físicas praticadas ao longo da vida não estão relacionadas com a performance mas sim com aspetos funcionais, recreativos e com a saúde.


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  • Dawn Penny e Mike Jess "Physical Education and Physical Active Lives: A lifelong approach to curriculum development". Sport Education and Society, Vol. 9, Nº 2, july 2004. pp. 269-287: PDF



Jordan Wintle, "Physical Education and Physical Activity Promotion: Lifestyle Sports as Meaningful Experiences" afirma que a formação de hábitos na juventude tem sido ênfatizada como um fator preditor do envolvimento dos adultos em Atividades Físicas. Como tal, torna-se imperativo que os Professores de EF devam proporcionar experiências positivas aos jovens que aumentem a probabilidade destes jovens reconhecerem o valor e alegria no facto de continuarem a envolver-se em atividades físicas ao longo da vida. A EF tem sido vista como uma área e um veículo fundamental para a promoção de estilos de vida ativos. Enquanto matéria obrigatória e transversal a todos os ciclos de ensino, a janela de oportunidade é elevada. No entanto, a eficácia das atuais práticas no encorajamento de estilos de vida ativos tem sido questionada. As maiores questões centram-se em torno das pedagogias utilizadas na EF e a relevância do currículo para os jovens!... O autor argumenta que embora o estilo de vida desportivo (Literacia Desportiva) tenha um lugar nos currículos de EF, é importante que as pedagogias associadas a estas atividades estejam alinhadas com o etos e a cultura experimentada pelos participantes no contexto social onde se inserem (ênfase na comuidade)


Devemos estudar e compreender a relação entre a EF escolar e a Atividade Física praticada ao longo da vida! O autor refere que os resultados indicam que as memórias da EF na infância e adolescência possuem uma pequena-a-moderada associação com as atitudes, intenções e o tempo de sedentarismo na vida adulta. Porém, as experiências negativas eram sempre mais poderosas e significativas tendo um impacto maior nos temas relacionados com a vergonha, falta de gosto/divertimento e a ansiedade a virem à tona. O divertimento e o sentimento de competência estavam associados a memórias mais positivas e a uma maior probabilidade de se envolverem em AF na idade adulta.


Em relação ao estado atual das práticas de educação física, Kirk [citado por Jordan Wintle] apresentou uma revisão um tanto contundente, observando que, longe de ser relevante para o século 21, a educação física hoje (educação física como técnicas desportivas) tem sido pouco relevante para os 30 anteriores anos. No seu trabalho de 2010, apresenta três futuros possíveis:

  1. Mais do mesmo parece ser a opção mais fácil, no entanto parece ser a menos sensata considerando os resultados apresentados.

  2. A EF, na sua forma atual, não está a conduzir à adoção generalizada de AF entre os jovens no seu próprio tempo ou além dos anos escolares. Portanto, parece lógico que algum tipo de Reforma da atual prática seja necessária se quisermos confiar na ambição da EF para lançar as bases para uma vida fisicamente ativa.

  3. Atualmente, parece haver um confronto entre a EF e o lugar da AF na vida dos jovens para além da escola. Na tentativa de resolver isso, podemos precisar repensar a natureza da educação física escolar e, de acordo com Tinning e Fitzclarence, considerar as possibilidades de um currículo pós-moderno em educação física

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  • Jordan Wintle, "Physical Education and Physical Activity Promotion: Lifestyle Sports as Meaningful Experiences". Education Sciences. 2022, 12, 181: PDF

  • Ismael Tabuñar Fortunado. An Overview to Game Theory, Physical Education and Sports, Its Thirteen Essentials and Categories. Education Journal 2016; 5(5): 92-96: PDF



Os alunos deverão compreender, distinguir, escolher e operacionalizar programas de Atividade Física vocacionados para as 4 dimensões, mas enfatizar sobretudo 3 delas:

​Atividade Física Relacionada com a Saúde - AFRS - LONGEVIDADE

​Atividade Física Relacionada com a Performance - AFRP - PERFORMANCE

AFF - Atividade Física Funcional

Método de treino Natural de Georges Hébert | Educação Somática | Holopraxias.

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​AFR - Atividade Física Recreativa

​Caminhar; Pedalar; Hidroginástica; Nadar; Aptidão Física; Turismo Aventura

​Escolher preferencialmente adversidades(1) em vez de adversários (Cooperação)

  • (1) Adversidades em vez de adversários: Jogos Cooperativos


Alguns exemplos de atividades físicas mais relacionadas com a longevidade:

​Categoria da atividade

Atividade Específica

​MET

​Ciclismo

Todo o Terreno BTT

​8,5

​Ciclismo

Estrada/lazer 16 a 22 Km

​6 a 8

​Exercício de condicionamento físico

​Bicicleta Estacionária 50 a 100 w (esforço ligeiro a moderado)

​5

​Exercícios de condicionamento físico

​​Exercícios calisténicos

4,5

Exercícios de condicionamento físico

Treino em circuito (geral)

8

​Exercícios de condicionamento Físico

​Exercícios gerais no Ginásio

5,5

​Exercícios de condicionamento físico

​Posturas de Hatha Yoga

4

​Exercícios de condicionamento físico

​Hidroginástica

​4

Dançar

​Ginástica Aeróbica, geral

​6

​Dançar

​Danças de salão (disco, folk, etc)

​5,5

​Pescar

​Pesca de lazer

​5

​Atividades domésticas

​Limpar a casa

4,5

​Atividades domésticas

​Caminhar/correr e brincar com crianças

​4 a 5

​Jardinar

​Cortar a relva, mondar, limpar

4 a 5

​Ocupacional

​Agricultura, alimentar pequenos animais

​4

Correr

​Jogging, geral

7

​Desporto

​Golf, geral

4,5 a 5,5

​Desporto

​Orientação

9

​"Desporto"

​Tai-chi

​4

​Caminhar

​Caminhada Cross Country (Natureza)

​6

​Caminhar

Caminhada na montanha (Trail)

8

​Atividades aquáticas

​Canoagem em acampamento

4

​Atividades aquáticas

​Snorkeling

5

Atividades aquáticas

Estilo livre (crawl ou bruços) esforço moderado

​8

Atividades de inverno

Esquiar

7

  • QUADRO Simplificado: Ainsworth, B.E. el col. Classification by Energy Cost of Human Physical Activities. Medicine and Science in Sports and Exercise, Vol. 25, N.º 1; pp. 71-80. ACSM: PDF



Michel Poulan e colaboradores "The Blue Zones" refere que a longevidade está associada a populações que conseguem manter um estilo de vida tradicional que pressupõe atividade física "intensa" para lá da idade dos 80 anos, um reduzido nível de stress, um apoio familiar e comunitário intensivo bem como o consumo de alimentos produzidos localmente. A confiança entre as pessoas dentro destas comunidades é muito elevada o que garante um elevado apoio social, entreajuda e colaboração.

  1. Estilo de vida tradicional.

  2. Atividade física intensa acima dos 80 anos.

  3. Reduzido nível de stress.

  4. Apoio familiar e comunitário aos idosos (Cooperação).

  5. Consumo de alimentos produzidos localmente.

 

Ameaças à Promoção de Comunidades Zona Azul?




Desadequada oferta curricular da EF:


Vimos no gráfico anterior que as preferências da população portuguesa quanto a diferentes tipos de atividade física, por faixa etária difere consideravelmente da oferta dos currículos de Educação Física. Percebemos que, este é mais um argumento que nos pede uma revisão das matérias a lecionar nas aulas se estamos interessados na longevidade. Ainda olhamos para a EF numa perspetiva de performance e isso está refletido na importação do modelo desportivo e dos seus gestos técnicos especializados orientados para a rentabilização motora. A Educação Física que valoriza a longevidade escolhe os movimentos e atividades funcionais.


Locus no controlo externo:


Por outro lado também percebemos que uma EF que centra a sua ação pedagógica no professor, desde o 1º ciclo até ao ensino secundário (locus no controlo externo - heteronomia) promove nos alunos uma menor propensão para assumir responsabilidades pela sua própria saúde, pelo seu próprio futuro e pela comunidade onde se inserem tal como afirma Peter Gray. Achamos que as crianças precisam de EF desde o 1º ciclo para contrariar a desordem por défice de exercício pelo facto de terem perdido o seu precioso tempo para brincar, por causa da Escola a Tempo Inteiro. Porém, esta nossa intenção de resolver um problema acarreta outros problemas mais graves porque esta educação forçada e compulsiva, apenas promove inconformidade biocultural. Peter Gray afirma que o “declínio da brincadeira está relacionado com a subida de psicopatologias nas crianças e adolescentes”. Atualmente as oportunidades para as crianças brincarem no exterior com outras crianças, de forma livre e espontânea, tem declinado continuamente. Neste mesmo período, tem-se verificado um aumento dos índices de ansiedade, depressão, sentimentos de desamparo e narcisismo, nas crianças e adolescentes. Peter Gray demonstra a existência de uma relação psicopatológica entre a diminuição da brincadeira livre e os desequilíbrios emocionais (…).






Ciência do Grupo:


Também constatamos que a Educação Física orienta a sua ação em função da ciência do grupo (dados estatísticos de estudos amostrais). L. Todd Rose, e colaboradores num artigo intitulado “The Science of the Individual” afirmam que os indivíduos manifestam padrões de variabilidade que não são capturados pelos modelos que se baseiam nas médias estatísticas. Desta forma, qualquer tentativa significativa que procure desenvolver a ciência da individuo começa necessariamente por ter em consideração a variabilidade individual que é pervasiva em todos os aspetos do comportamento e em todos os níveis de análise. A ciência do grupo é um pobre substituto para uma verdadeira ciência do individual. Os modelos tradicionais assumem com frequência que as conclusões acerca da população se podem, automaticamente, aplicar a todos os indivíduos. Este pressuposto é simples, compreensível e necessário para justificar o uso das médias para se compreender os indivíduos. Porém, também é errado. No caso da Aptidão Física, os valores de referência para a zona saudável foram construidos com base numa média estatística. Porém, ao longo das últimas duas décadas, uma acumulação significativa e substancial de evidências tem vindo a mostrar a dificuldade em se inferir o que quer que seja acerca dos indivíduos a partir de conclusões tiradas com base numa população ou amostra. Molenaar (2004) argumenta que tais inferências só são possíveis em condições muito estritas designadas por pressupostos ergódico que nunca se adequam para os indivíduos. Para além disso, as evidências são crescentes e vão no sentido de provar que, com maior frequência do que se pode supor, as conclusões tiradas com base em amostras, representam na melhor das hipóteses, um pequeno conjunto de indivíduo e no pior dos casos, são artifícios estatísticos que não representam ninguém. Podemos inferir que o perfil saudável explícito nas Tabelas de Referência não servem como valores de referência porque se baseiam em médias estatísticas. O testemunho de Tood Rose é crucial para se compreender o "Mito da Média". Precisamos de "cockpits ajustáveis" para cada aluno!... É imperativo deixar de ensinar a muitos como se fossem um só!...


  • L. Todd Rose, Parisa Rouhani and Kurt W. Fischer. The Science of the Individual. Journal Compilation © 2013 International Mind, Brain, and Education Society and Blackwell Publishing. Volume 7—Number 3: PDF




Ideologia do Desporto na EF:


A alínea a do ponto 3 da LBSE refere que o Estado não pode atribuir-se o direito de programar a educação e a cultura segundo quaisquer diretrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas. Jurjo Santomé (página 94), afirma que o poder detido por uma classe social (Professores de EF) é utilizado para impor uma definição do mundo, para definir significados e apresenta-los como legítimos, dissimulando o poder que essa classe tem para o fazer e escondendo, além disso, que essa interpretação da realidade coincide com os seus próprios interesses de classe. Assim, esta violência simbólica reforça com o seu próprio poder as relações de poder nas quais ela se apoia, e contribui dessa forma, para a domesticação do dominado. A cultura encontra-se, portanto, dominada pelos interesses de classe. Esta violência simbólica vai exercer-se diretamente através da ação pedagógica. De facto, P. Bourdieu e J. C. Passeron declaram de forma explícita que toda a ação pedagógica é objetivamente uma violência simbólica enquanto imposição, por um poder arbitrário, de uma arbitrariedade cultural. Os currículos são ideológicos por natureza o que fere a LBSE. Vamos analisar os textos de aritmética do 1º ciclo. A maioria dos exemplos lida com o conceito de comprar, vender, alugar, trabalhar para um salário e interesses de cálculo. Estes exemplos fazem mais do que refletir o sistema capitalista no qual a educação acontece, eles endossam-no, legitimam-no e, implicitamente sugerem que esta é a forma natural, normal e exclusiva. Vamos analisar os jogos pré-desportivos e desportivos utilizados nas aulas de EF do 1º ciclo e subsequentes ciclos de ensino. A maioria dos jogos exploram o conceito de oposição, adversário, vencer, derrota como formas normais de interação social. Este exemplo faz mais do que refletir o Sistema Desportivo no qual a EF acontece, endossam o sistema de crenças baseados na competição, legitimam-no e, implicitamente sugerem que esta é a forma natural e normal de relação social. Trata-se de um sistema que incentiva a tradicional luta pela vida, considerada como uma forma socialmente positiva e normal de investimento pessoal, onde o mais forte vence; incentiva a competição de interesses e a sobreposição dos mesmos sobre outros. A ideologia do desporto competitivo funciona exatamente como um instrumento de doutrinação cultural perpetuando este modelo de valores que enfatiza a divisão dos indivíduos por classes sociais e concomitantemente por classes de valores atribuídos através de uma classificação resultante da prestação motora (performance). Interessa a esta classe dominante, aqueles que se superiorizam numa relação competitiva, que os perdedores se domestiquem e aceitem a sua inferioridade perante os primeiros. A Educação Física, orienta-se pelas Aprendizagens Essenciais que derivam dos programas de EF que se confundem quase exatamente com a iniciação à prática desportiva. Esta prática desportiva privilegia a Pedagogia da Oposição (competição) que se baseia na interdependência negativa.



Os estudos das neurociências a nível da dinâmica de Sincronicidade inter-cerebral mostram que, quando alguém é percebido como competidor ou concorrente, a capacidade para a empatia cai significativamente, a sincronicidade inter-cerebral fica comprometida e a probabilidade para o conflito aumenta. Também, o objetivo do desporto, ao contrário do diálogo moral de Norma Haan, não é equalizar as relações o que pode ser visto como um comportamento egoísta, egocêntrico ou de interesse próprio e, como tal, é a antítese da ação moralmente madura quando analisada à luz dos níveis morais de Haan. Ou seja, os dilemas do desporto podem provocar níveis mais baixos de raciocíneo moral como respostas contextualmente apropriadas, mas desapropriadas relativamente aos desafios da vida que nos pede uma moralidade superior e uma consciência social plena.

A Cooperação e a competição são dois dos comportamentos sociais mais importantes na sociedade humana. Segundo uma perspetiva evolutiva tradicional, a coooperação envolve a partilha de recursos por forma a aumentar a segurança do grupo e o acesso fiável a recursos importantes. Em contraste, a competição envolve a monopolização dos recursos para maximizar as vantagens individuais com base na sobrevivência do mais forte. Uma grande quantidade de investigação tem mostrado que as interações sociais associadas à cooperação e competição possuem efeitos duradouros a nível do comportamento humano e da motivação. Os aderentes da perspetiva humanista argumentam que quando se pretende orientar as pessoas para objetivos partilhados, a cooperação é muito mais benéfica para a motivação humana e para a produtividade. Através da cooperação os indivíduos podem-se complementar e utilizar os benefícios da associação no sentido de alcançar objetivos partilhados. Os comportamentalistas defendem que a competição promove nos participantes uma maximização do seu potencial para ultrapassar os seus oponentes. Tudo depende do perfil de personalidade e modelo social que queremos investir:

  1. Competição - valorização da dimensão cognitiva e racional: Numa situação competitiva, a teoria do jogo diz-nos como (pede-nos para) sermos espertos (inteligentes). Segundo a Teoria do Jogo de Nash, os atores no modelo competitivo (Jogos Finitos) procuram o Equilíbrio de Nash. O que torna este jogo tão interessante é o facto do Equilíbrio de Nash representar a decisão em que ambos os jogadores optam pela “estratégia racional” mas que os deixa numa situação mais desvantajosa do que aquela que envolve cooperação.

  2. Cooperação - Valorização da Dimensão Social e Moral: Neste tipo de jogo, os jogadores procuram a Solução Social Ótima: a distribuição ideal de recursos na sociedade, considerando todos os custos e benefícios externos, bem como os custos e benefícios internos. Numa situação cooperativa, a teoria do jogo diz-nos como (pede-nos para) sermos justos.

Inteligência Racional

​Inteligência Socio-emocional

​Competição

​Equilíbrio de Nash; Inteligência ao serviço do interesse próprio

​Diminuição da Empatia; Sobreposição de Interesses. Maior Probabilidade de conflito.

Cooperação

Inteligência ao serviço do outro

​Solução Social Ótima; Consciência Social Plena




O facto é que a cooperação e competição conduzem a respostas neuronais emocionais distintas, tais como a empatia porque são formas de interdependência acompanhadas por reações emocionais ou julgamentos das outras pessoas.


Economia Competitiva de Mercado Livre:


O desporto prepara os jovens para serem competitivos numa economia de mercado livre porém, este modelo sócio-económico tem sido responsável, segundo Bruce K. Alexander, 2008, “The Globalization of Addiction – a study in poverty of the Spirit”, pelas adições que resultam dum processo de desintegração da identidade cultural e dos laços afetivos entre as pessoas, devido a uma sobrevalorização das coisas materiais em detrimento das relações humanas. A adição não é um problema dos indivíduos, mas um problema social. Karl Polanyi (1944), usa a palavra “deslocação” (desenraizamento) para descrever a devastação psicológica individual que está enraizada na fragmentação iminente da sociedade. “Alienação” e “desconexão” são igualmente bons termos para “deslocamento”. A deslocação ou desenraizamento refere-se à experiência de um vazio que pode ser descrito em vários níveis:

  1. No plano social corresponde à ausência de ligações duradouras entre indivíduos e respetivas famílias e / ou sociedades locais, nações, tradições e ambientes naturais.

  2. Em termos existenciais, é a ausência de sentimentos vitais de pertença, identidade, significado e propósito.

  3. Em termos espirituais, pode-se chamar pobreza do espírito, falta de força espiritual, falta de lar da alma ou sentimento de abandono por Deus.

Constatamos que a nossa sociedade ameaça o Ikigai, ou seja, troca o sentido mais nobre, ou propósito de estar no mundo, por um sentido efémero que promove a erosão da alma humana. Também vimos que os valores privilegiados pelo perfil dos "Takers" (Mentalidade competitiva finita), segundo Adam Grant, está orientado para a obtenção de riqueza (dinheiro e posses materiais), poder (domínio e controlo sobre os outros), prazer (disfrutar a vida) e ganhar (comparar-se e fazer melhor que os outros). A sociologia do consumo, abordada por Raquel Ribeiro no artigo "consumo: uma perspetiva sociológica" mostra que o consumo advém de uma procura de satisfação de necessidades ou desejos e também da compensação de padrões de superioridade e inferioridade entre indivíduos e grupos, da simbolização de sucesso ou poder, assim como da expressão de estados de espírito ou de formas de comunicação interpessoal. O consumo tornou-se numa forma de competição ou instrumento de afirmação individual e fenómeno social diferenciador numa sociedade materialista. É aceite pela Sociologia que a aquisição, posse e exibição (ou ocultação) de bens representa uma das formas de exprimir status social e que se faz diferentemente, consoante o estrato ou classe social a que o indivíduo pertença. Tem-se mesmo advogado que, pelo poder simbólico que o acto de consumo adquiriu de comunicar status, a pertença ou aspiração a um estrato ou classe social constituem imperativos enformadores das decisões de consumo dos indivíduos e grupos.

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  • Pedro Saraiva. Promoção de Estilos de Vida Saudáveis: Uma Distinção Social? Fórum Sociológico Série II 34 | 2019: PDF

  • COP: atualmente a industria do desporto vale 1.794 milhões para a economia – PDF




Um determinante da felicidade é o rendimento pessoal (salário) afirma Tim Liao no seu artigo Income Inequality, Social Comparison and hapiness in the United States. A revisão da literatura mostra uma associação positiva entre o salário e o bem-estar subjetivo. Também se provou que existe uma relação entre a classe social, incluindo a classe social subjetiva, e a felicidade. Ou seja, provou-se que o bem-estar subjetivo é moldado pela desigualdade social. A investigação mais recente tem demonstrado que o efeito das desigualdades socias no bem-estar subjetivo pode ser melhor compreendido se considerarmos os mecanismos de comparação social. A comparação social refere-se ao processo através do qual os indivíduos avaliam as suas próprias habilidades, concretizações e atributos e uma das preocupações centrais da comparação social é a seleção comparativa ou, por outras palavras, com quem os indivíduos escolhem comparar-se.

DB Krupp, professor adjunto de Psicologia da Universidade Queen no Ontário, estuda a forma como a competição acentua a desigualdade e o conflito (PDF).


  • Richard Wilkinson and Kate Pickett. Greater Equality the hiden key to better health and higher scores. American Educator | Spring 2011: PDF

  • Richard Wilkinson. Inequality and Social Dysfunction. PDF

  • Anne-Lene B. Ulseth and Ornulf Seippel. Fitness, Class and Culture: Social Inequality in Fitness. 2011: PDF

  • Bruno S. Frey and Stephan Meier. Social Comparisons and Pro-Social Behaviour: Testing "Conditional Cooperation" in a field Experiment. The American Economy Review, december 2004. PDF

  • Erin Vogel et col. Social Comparison, social media, and self.esteem. Psychologie of Popular media Culture, 2014, Vol. 3, nº 4, 206-222: PDF

  • Thomas Mussweiler and Fritz Strack. Consequences of social comparison. Selective accessibility: PDF

  • Abrahma P. Buunk e col. Social Comparison: The end of a theory and the emergence of a field. OBHDP 102 (2007) 33-21: PDF

  • Judith B. White et col. Frequent Social Comparisons and Destructive Emotions and Behaviours: The dark Side of Social Comparisons. Journal of Adult Development, Vol. 13, º 1, march 2006: PDF

  • Monica K. Miller et col. Social Comparison Theory. 2016: PDF

  • Matthew Baldwin and Thomas Mussweiler. The Culture of Social Comparison. PNAS. vol. 115 | nº 39: PDF | PDF

  • Tim Futing Liao. Income Inequality, Social Comparison and hapiness in the United States. Socius: Sociological Research for a Dynamic World. Vol. 7, 2021, 1-17: PDF



Fatores que deterioram a confiança e a empatia entre as pessoas e promovem problemas de saúde e problemas sociais:

  • Desigualdades salariais estão na base das desigualdades sociais que por sua vez deterioram a confiança entre as pessoas.

  • O modelo sócio-económico da Economia de Mercado livre que se baseia numa economia competitiva e concorrencial deteriora a empatia entre as pessoas. Os estudos de investigação da dinâmica da sincronicidade inter-cerebral mostram que, quando alguém é percebido como competidor ou concorrente a capacidade para a empatia cai significativamente e perde-se a capacidade de confiar nos outros.

  • O modelo competitivo de interdependência negativa cria dor social porque ameaça os 5 domínios da experiência social humana que ativam os dois mecanismos de resposta comportamental (minimizar a ameaça e maximizar a recompensa) e que são nomeadamente: estatuto, segurança, autonomia, pertença (filiação) e equidade ou justiça.


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  • David Rock. SCARF: a brain-based model for collaborating with and influencing others. Neuro Leadership journal. Issue Ner 2008. PDF

  • David Rock (2009); “managing with the brain in Mind”; Oxford leadership Journal; december 2009; Vol. 1; Issue 1; pp. 1-10: PDF

  • David Rock (2012); “ SCARF: in 2012: updating the social neuroscience of collaborating with others”; Neuroleadership ournal; Issue 4; pp. 1-14: PDF

  • Naomi I. Eisenberger, Mattew D. Lieberman, Kipling D. William (2003); “Does Rejection Hurt? An fMRI Study of Social Exclusion”; Science; Vol. 302, 10 october 2003; pp. 290-292: PDF

  • Naomi I. Eisenberger and Matthew D. Lieberman. Why rejection hurts: a common neural alarm system for physical and social pain. TRENDS in Cognitive Sciences Vol.8 No.7 July 2004: PDF

  • Carrie L. Masten et al. Neural correlates of social exclusion during adolescence: understanding the distress of peer rejection. SCAN (2009) 4,143–157: PDF

  • Mara van der Meulena et al. The neural correlates of dealing with social exclusion in childhood. Neuropsychologia 103 (2017) 29–37: PDF

O Modelo SCARF fornece um quadro de referências que permite facilmente discernir os principais fatores que influenciam a forma como as pessoas percebem e respondem às situações sociais. Os cinco fatores do modelo (Estatuto, Certeza, Autonomia, Relação, Justiça) afetam a forma como as pessoas se sentem ameaçadas ou recompensadas no contexto social. As desigualdades sociais afetam negativamente todos estes fatores.


A confiança é um elemento fundamental do capital social – um fator chave para sustentar os resultados de bem-estar, incluindo o desenvolvimento económico (Our world in data). A World Value Survey permite comparações entre países relativamente às atitudes de confiança autorrelatadas. Esta visualização mostra estimativas da proporção de entrevistados que concordam com a afirmação “pode-se confiar na maioria das pessoas”. Em 1999 o índice de confiança de Portugal situava-se nos 21,9 numa escala de 0 a 100. A confiança ocorre quando uma pessoa permite ao outro tomar decisões que afetam o seu bem-estar. A oxitocina está envolvida na confiança entre seres humanos. Uma educação positiva (democrática), cria ambientes de aprendizagem que estimulam a produção da oxitocina (peptídeo) e os alunos aprendem com entusiasmo.

Dados entre países, bem como dados dentro do país, sugerem que a desigualdade económica está negativamente relacionada à confiança (WVS). A confiança e a coesão social caminham juntas sendo que a coesão social é muitas vezes definida como a capacidade que um país tem para apoiar a tomada de decisão coletiva pacífica.

​Cooperação

Competição

​A cooperação está associada à interdependência positiva, abertura, confiança, partilha de informação e resolução de problemas. A integridade conduz à confiança que se baseia na consistência de ações passadas, na credibilidade da comunicação, compromisso relativamente a padrões de justiça e a concordância e respeito com os princípios das outras pessoas. A confiança depende muito de uma boa reputação.

​A competição está associado à interdependência negativa, fechamento, oposição, desinformação e sobreposição de objetivos. A probabilidade para o conflito aumenta e a empatia diminui que acarreta diminuição da confiança nos outros.


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  • Paul J. Zak et al. (2005), “Oxytocin is associated with human Trustworthiness“; Science Direct. PDF

  • Paul J. Zak, Angela A. Stanton, Sheila Ahmadi,Oxytocin Increases Generosity in Humans“. PLOSONE nov 2007 | Issue 11: PDF

  • Michael Kosfeld et. al (2005), “Oxytocin increases trust in humans”; Vol. 435, June 2005; 10.1038 nature03701: PDFo

Estabelecer uma sociedade de mercado livre deve desmembrar as relações entre os indivíduos e ameaçar com aniquilação o seu habitat natural (Bruce K. Alexander, the roots of addiction in a free market society).
  • Bruce K. Alexander. The Roots of Addiction in free market Society. Canadian Center for POlicy Alternatives: PDF

  • Bruce K. Alexander. Healing Addiction Through Community: A much Longer Road Than it Seems? PDF


A Integração Psicossocial é fundamental para o bem-estar humano. Jon Young chama ao fenómeno de desintegração psicossocial a desconexão ou perda da Ligação Profunda com a Natureza e o antídoto passa pela reparação do isolamento emocional.

O ser humano possui um instinto inato (biologia evolutiva) orientado para o contacto social através dos laços criados pelo comportamento cooperativo. A causa apontada como responsável pela desintegração destes “instinto social” (Drawin “The Descent of Man”) deve-se, segundo Bruce K. Alexander, à introdução da Sociedade de Mercado Livre que pressiona as pessoas no sentido do individualismo e da competição. Também o Psicólogo Pierre Weill refere que na origem da “Roda da Destruição” está a competição e as lutas pelo poder. A sociedade de mercado livre (capitalismo) impõe a crença na felicidade através do poder material e do consumismo ("Modo Ter"), desviando a atenção das pessoas de um propósito e sentido de Missão ou Objetivo Nobre na Vida ("Modo Ser").


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  • Raquel Ribeiro. O consumo: uma perspetiva sociológica. VI Congresso Português de Sociologia 25 a 28 de junho 2008: PDF

  • Maurice E. Stucke. Is competition always good? Journal of Antitrust Enforcement, Vol. 1, N.º 1 (2013), pp. 162-197: PDF

Erin York Cornwell e colaboradores referem que os riscos para a saúde associados ao isolamento (desintegração do instinto social) têm sido comparados em magnitude aos tão conhecidos riscos de fumar cigarros e obesidade. Os indivíduos que relatam a falta de ligações sociais ou referem sentimentos frequentes de solidão tendem a sofrer elevadas taxas de morbilidade e mortalidade e também a propensão para a infeção, depressão e declínio cognitivo. Sabemos que as Comunidades Zona Azul florescem onde a ligação social é forte. Este fator remete-nos para a importância de currículos que contemplem as competências sociais e emocionais facilitadoras de relações sociais saudáveis onde a consciência social plena é um objetivo a alcançar.

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  • Erin York Cornwell e Linda J. Waite "Social Disconnectedness, perceived isolation, and Health among Older Adults". Journal Health Soc. Behav. 2009 march, 50(1): pp. 31-48: PDF



Também teremos que investir numa economia do consumo colaborativo que promova outros valores e garanta maior igualdade e equidade social. Na verdade teremos que mudar os nossos sistemas de crenças porque este tem-nos conduzido a uma sociedade disfuncional ("Roda da Destruição").

  1. Economia Colaborativa: Um sistema económico de redes e mercados descentralizados que liberta o valor de ativos subutilizados ao combinar necessidades e recursos, contornando os tradicionais intermediários.

  2. Economia de Partilha: sistema económico baseado na partilha direta entre indivíduos de bens ou serviços subutilizados, gratuitamente ou por uma taxa.

  3. Consumo colaborativo: a reinvenção dos comportamentos tradicionais do mercado – alugar, emprestar, trocar, partilhar, trocar, presentear – por meio da tecnologia da Internet.

  4. Serviços on-demand: plataformas que atendem diretamente às necessidades dos clientes, com fornecedores, para entregar produtos e serviços imediatamente.



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  • Rachel Botsman. Collaborative Consumption. NESTA: PDF

  • Banco do Tempo

  • Banco do tempo. A experiência do banco do tempo em Portugal: Tecendo sentidos e mudanças. PDF

  • Michel Bauwens, P2P Foundation (2012); “Synthetic Overview of the Collaborative Economy”; P2P Foundation; PDF;

  • European Comunity, Business Innovation Observatory, “The Sharing Economy – Accessibility Based Business Models for Peer-to-Peer markets”, Case Study; PDF.

  • NESTA – Collaborative Lab – making sense of the uk collaborative economy: PDF;

  • Ravi Gururaj. The Rise of the Sharing Economy - The Indian Landscape, october 2015. NASSCOM. PDF




 

Quais são os sintomas da disfunção educativa?


Atualmente podemos afirmar que a escola é uma fonte de inconformidade biocultural (Mischa Titiev (1963; Introdução à Antropologia Cultural). Quando os valores simbólicos ou culturais de um grupo divergem largamente das considerações biológicas básicas, desenvolve-se uma espécie de inconformidade biocultural que é uma fonte de grande perigo. Inerente ao facto das crianças, jovens e adultos não poderem modificar as suas biologias hereditárias, pareceria melhor que as sociedades modificassem os seus requisitos culturais e os tornassem mais flexíveis de forma a eliminar algumas fontes de inconformismo biocultural.


Quando um Sistema de Crenças, que suporta um Modelo Social e Económico, não respeita os imperativos biológicos, manifesta-se uma epidemia de problemas de Saúde Mental que afetam os Professores, alunos, Assistentes Operacionais e os Pais e Encarregados de Educação.


Na contracapa do livro de Luísa Cristina Fernandes "Os medos dos Professores" e só deles?" lê-se o seguinte:


Como psiquiatra, vim a verificar, que o(a) professor(a) do ensino secundário é das profissões mais representadas no meu ficheiro, se não a mais representada, situação que outros colegas confirmam. Que se passa então com esta classe profissional para quem tão grande número busque ajuda junto dos profissionais de saúde mental? Que sucedeu então às motivações que os levaram a escolher o ensino? Que medo surgiram no decurso da profissão, que não existiam antes? Qual a sua raiz?

Prof. Dr. Mário Simões (Psiquiatra)


Medos dos Professores:
  1. Tenho medo que o meu salário não me permita satisfazer as minhas necessidades pessoais e familiares.

  2. Tenho medo de não saber lidar com a desmotivação escolar dos jovens.

  3. Tenho medo de ter alunos violentos.

  4. Tenho medo de vir a dar aulas numa escola longe de casa.

  5. Tenho medo de não saber lidar com alunos violentos.

  6. Tenho medo de vir a ter algum esgotamento derivado à profissão.

  7. Tenho medo de me vir a ser atribuído um horário zero.

Devido à enorme quantidade de tarefas (sendo a maioria burocrática e administrativa) que o professor tem de desempenhar, ele começa logo no início da sua carreira a manifestar o medo de ter um esgotamento. Nesta fase do ciclo profissional, os professores entram em choque com a realidade e um dos fatores apresentados para essa situação é o desgaste emocional e físico e os estados de exaustão e depressão são os indicadores que melhor traduzem o conceito de mal-estar-docente. A desvalorização da prática docente e as inúmeras incongruências e incoerências do sistema educativo, criam um sentimento de resignação, ou por vezes o “burnout” porque as tensões internas são muitas. Embora sejam diferentes de Burnout, as palavras-chave têm muito em comum: fadiga, frustração, alienação, stress, depleção, desajustamento, desespero, drenagem emocional, exaustão emocional, cinismo. O próprio Skovholt define a Síndrome de Burnout como a “hemorragia do Self”, explicando na sua perspetiva que o Self é o Eu intrapessoal. “Burnout é o índice do desfasamento entre o que as pessoas são e o que elas têm que fazer. Isto representa uma erosão nos valores, dignidade, espírito e força de vontade. Uma “erosão da alma humana”. O Síndrome poder ser definido como o “Síndrome da Desistência do Educador (SDE)”. Um sentimento de baixa realização pessoal do trabalho, que é particularmente crucial para os professores. A maioria dos educadores ingressa na profissão para ajudar os alunos na apropriação do conhecimento, levando-os ao crescimento intelectual. Por este motivo, quando percebem que não mais contribuem para o desenvolvimento dos estudantes, os professores ficam vulneráveis a sentimentos de profundo desapontamento e enfrentam a depressão ou agressividade psicológica.


E se os professores manifestam um desgaste psicológico e emocional devido ao inconformidade biocultural, o mesmo acontece com os alunos cujos imperativos biológicos estão a ser desconsiderados desde idades cada vez mais precoces devido a esta educação compulsiva e forçada e aos problemas resultantes das desigualdades sociais.


O oposto de Ikigai é o Hikikomori: comportamento é atualmente tido como problema de saúde pública no Japão onde milhares de jovens se encontram nesta situação devido ao alto grau de perfeição exigido das pessoas em tarefas diárias e à pressão acarretada por tal exigência, o que acaba levando muitas pessoas a problemas psicológicos de baixa autoestima e em alguns casos extremos tendências psiquiátricas graves.



  • WHO. Growing up unequal: gender and socioeconomic differences in young people's health and well-being. HBSC Study. International report from the 2013/2014 Survey: PDF

  • Equipa Aventura Social: Margarida Gaspar de Matos (Coord. Científica) e colaboradores. Saúde Psicológica e Bem-estar - Observatório de Saúde Psicológica e Bem-estar: Monitorização e ação. PDF

  • Wagner de Lara Machado e Denise Rushel Bandeira. Bem-estar psicológico: definição, avaliação e principais correlatos. Estudos de Psicologia | Campinas | 29(4) |587-595 | outubro-dezembro 2012: PDF

  • Conceição Tavares de Almeida. Saúde Mental em Saúde Escolar - Manual de Promoção de Competências Socioemocionais em Meio Escolar. Programa Nacional para a Saúde Mental. DGD: PDF

  • Tânia Gaspar e colaboradores. Ative a sua escola: saúde mental e bem-estar físico e psicológico. Laboratório de atividade física e saúde - Instituto Politécnico de Beja; junho 2021: PDF



Além da diminuição do bem-estar das crianças e da deterioração da Saúde Mental, João A. Lopes (Universidade do Minho) caracteriza os alunos problemáticos em contexto de sala de aula. João Lopes fala dos alunos com problemas de hostilidade (disturbios exteriorizados de comportamento) do tipo: não colaboração com os pedidos e exigências dos adultos, agressão, destrutibilidade, problemas de atenção, impulsividade, hiperatividade, oposição, acessos de fúria, birras, teimosia, desafio e provocações - com a possibilidade de desencadeamento de lutas:

  1. Alunos hostis-agressivos e alunos desafiadores - incompatibilidade com a autoridade (desafio à figura do professor).

  2. Alunos passivo agressivos - agressividade dissimulada como táticas dissimuladas e subterfúgios que pretendem contaminar o ambiente da aula (zanga ou ressentimento do indivíduo relativamente aos professores, aos pais e figuras de autoridade em geral).


Wagner de Lara Machado e Denise Rushel Bandeira "Bem-estar psicológico: definição, avaliação e principais correlatos" referem que o Bem-estar Psicológico é um construto baseado na teoria psicológica relacionado com o funcionamento psicológico positivo ou ótimo. Diversos estudos demonstraram a sua convergência relativamente a indicadores tais como:

  1. Bem-estar.

  2. Qualidade de vida.

  3. Marcadores biológicos de saúde.

  4. Processos desenvolvimentais adaptativos.

  5. Construtos que refletem dimensões positivas da saúde mental.


As dimensões do Bem-estar psicológico apresentam um paralelismo com o construto Ikigai. Tudo indica que muitos de nós deixaram de seguir Ikigai, ou seja, deixaram de ter uma verdadeira motivação para viver e participar no Jogo Infinito da Vida e podemos constatá-lo pela diminuição geral do Bem-estar Psicológico dos professores, alunos e todos em geral.


A Educação Somática tem uma palavra a dizer quando queremos resgatar a nossa identidade e tomar consciência de nós próprios e das nossas crenças sabotadoras. Gerda Boyeseen "Entre Psiquê e Soma - Introdução à Psicologia Biodinâmica" cita Wilhelm Reich o qual distingue o indivíduo mecânico do indivíduo vivo. Gerda refere que quando a "circulação libidinal" é destruida, o caráter maravilhoso e mágico da vida desaparece. A felicidade interior, o nirvana interior, são destruidos. Quando um indivíduo perde a capacidade de se absorver de maneira agradável na sua atividade, todo o trabalho se torna uma obrigação, um dever, uma dor. A concentração e a atenção tornam-se então tensões muito fortes e colocam a pessoa num princípio de desprazer.


Toda a atividade de brincadeira e todo o trabalho são para a criança atividades profundamente libidinais. Quando gozamos inteiramente da nossa circulação libidinal, sentimo-nos muito mais leves, estamos fisiológica e psicologicamente em boa saúde. Gerda Boyesen afirma ter compreendido que a própria energia vital dá origem ao tónus muscular. Cita o Doutor Olesen o qual havia falado de "exercício de repouso" tendo constatado que os músculos reencontravam mais facilmente o seu tónus quando as pessoas repousavam ao contrário de quando elas estavam ativas. Gerda Boyesen chama de "circulação libidinal" ao fluxo de energia que acontece durante o repouso e a qual preenche todo o corpo procurando restituir no organismo o tónus natural.


A Psicomotricidade (Vitor da Fonseca) estuda as três unidades funcionais responsáveis pelas praxias e são elas:

  • 1ª UF - Regula o tónus e é responsável pela função da atenção e da integração sensorial, responsável pela tonicidade e equilibração (Equilíbrio e Postura). O que nós encontramos nas crianças com dificuldades de aprendizagem são problemas claros de hipotonia ou hipertonia. As crianças com dificuldades de aprendizagem têm um diálogo tónico, sinergias onerosas e uma concentração da rigidez tónica em muitos pontos do seu corpo, quer nas articulações distais. O sistema vestibular está relacionado com problemas de atenção, hiperatividade e desorganização de informação. O sistema vestibular é um sistema que merece mais carinho da parte dos professores de Educação Física.

  • 2ª UF: Regula o armazenamento, análise, síntese, codificação e descodificação da informação. Esta UF está relacionada com a função da noção do corpo relacionada com o espaço intra e extracorporal. Também é responsável pela lateralidade sendo esta uma construção psíquica.

  • 3ª UF: Programa e planifica os movimentos e as condutas. É responsável pelas praxias globais e finas que integram os subfatores das outras UF, a tonicidade, equilibração, lateralidade, noção do corpo e estruturação espacio-temporal.

A Educação Somática, segundo Priscila Costa e Márcia Strazzacappa "A quem possa interessar: a Educação Somática nas pesquisas académicas", é um conjunto de práticas corporais alternativas que visam explorar a consciência corporal. Débora Bolsanello "Educação Somática: o corpo enquanto experiência" refere que a Educação Somática é um campo teórico e prático que se interessa pela consciência do corpo e o movimento tendo sido criada em 1995 pelos membros do regroupement pour l'Éducation Somatique (RES) em Montreal, no Canadá. Sob a denominação de educação somática agrupam-se diferentes métodos educativos de conscientização corporal dentro dos quais se destacam:

  1. Técnica de Alexander.

  2. Feldenkrais.

  3. Antiginástica.

  4. Eutonia.

  5. Ideokinesis.

  6. Ginástica Holística.

  7. Cadeias Musculares e Articulares G.D.S.

  8. Body-Mind Centering.

  9. Ginástica Sensorial.

  10. Continuum.

  11. Somaritmos.

  12. Pilates.

  13. Gyrotonic.


A Educação Somática distingue o corpo de soma, sendo este último o corpo subjetivo, ou seja, o corpo percebido do ponto de vista do indivíduo, já o corpo é observado de fora por uma 3ª pessoa. Os diferentes métodos de educação somática utilizam estratégias pedagógicas que visam levar o aluno a tomar consciência da relação entre os sintomas que ele apresenta e a totalidade do seu corpo. O aluno entra na primeira etapa do caminho de restabelecer o seu equilíbrio quando ele é capaz de reconhecer que os sintomas físicos ou psíquicos que ele apresenta têm estreita relação com a sua maneira habitual de organizar os seus movimentos e com a perceção que ele tem do corpo. A intenção do professor não é a de corrigir o aluno porque é a própria experiência do aluno que se torna o veículo da mudança, tratando-se de um processo de reaprendizagem. Neste sentido, o professor de educação somática não apenas ensina exercícios, mas ele dirige a atenção dos seus alunos de maneira que eles aprendam a sentir e perceber o que o corpo faz quando realiza os exercícios. O aluno é levado a concentra-se no movimento proposto, evitando um comportamento automático e ausente.

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  • Débora Bolsanello. Educação Somática, Primeiros Passos. Núcleo 8: PDF

  • Bébora Bolsanello e Clarissa Guaraná. Pequeno caderno de Grandes ideias - Educação Somática para crianças. Núcleo 8: PDF


Quando queremos que as crianças e jovens aprendam a explorar o conceito Ikigai torna-se importante virar a sua atenção para dentro, para que aprendam a conhecer e a explorar o seu mundo interno. Estas são Algumas das características comuns aos métodos de Educação Somática quanto à forma como o professor aborda o movimento do corpo no contexto das aulas:

  1. A diminuição do ritmo.

  2. A respiração como suporte do movimento.

  3. A interpretação da diretriz verbal.

  4. A auto-pesquisa do movimento.

  5. A auto-massagem.

  6. A busca do esforço justo.

  7. O alongamento fino e preciso.

  8. O aumento do vocabulário gestual.

  9. Aprendizagem "leiga".

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  • Marcia Strazzaxappa. Educação Somática: seus princípios e possíveis desdobramentos.

  • Umberto Cerasoli (2015). Resumos do Seminário de Pesquisas em andamento PPGAC/USP. Vol.3.1:

  • Débora Pereira Bolsanello. A Educação Somática e o contemporâneo profissional da dança. Artes e Ciências

  • Débora Bolsanello. Educação somática: o corpo enquanto experiência. Motriz, Rio Claro, v.11 n.2 p.99-106, mai./ago. 2005.

  • Débora Pereira Bolsanello. A educação somática e os conceitos de descondicionamento gestual, autenticidade somática e tecnologia interna. Motrivivência ano XXIII, n.º 36, jun. 2011. pp. 306-322: PDF

  • Fábio Soares da Costa e col. Somatic Education as an Inclusive Perspective in School Physical Education Lessons. Rev. Bras. Estud. Presença, Porto Alegre, v. 9, n. 1, e79769, 2019: PDF


Jean Leboulch "Rumo a uma ciência do movimento humano" afirma na página 162 que a preocupação do gesto mecanicamente eficaz faz passar para segundo plano o caráter expressivo do movimento e a aprendizagem motora assume, na maior parte das vezes, a forma de uma mecanização que torna o corpo do homem estranho à sua própria pessoa. Esta forma de alienação é particularmente grave, porque separa o homem (ou criança) do seu próprio corpo sendo a consequência lógica do pensamento dualista. (...) Toda a mecanização do corpo representa, no ponto de vista de Jean LeBoulch, uma verdadeira agressão em relação à pessoa. O mesmo autor refere na página 108 que a atividade fundamental primitiva e permanente do músculo é a atividade tónica que forma a tela de fundo das atividades motoras e posturais, fixando a atitude, preparando o movimento, baseando o gesto, mantendo a estática e a equilibração. A Educação Física preocupa-se fundamentalmente com o corpo instrumento (caráter analítico da progressão de exercícios - método mecanicista) contribuindo para o bloqueio da "circulação libidinal" destruindo a alegria e espontaneidade nas crianças. Como tal, não nos podemos queixar da desmotivação escolar dos jovens quando a nossa intervenção subtrai o tempo para brincar (locus no controlo interno) contribuindo para o “declínio da brincadeira que está relacionada com a subida de psicopatologias nas crianças e adolescentes”.



A nossa intervenção "Pedagógica" cria vários problemas:
  1. A Educação Compulsiva ou Forçada Contribui para o declínio da brincadeira (Escola a tempo inteiro) a qual está relacionada com a falta de saúde mental das crianças.

  2. A desportivização da EF impõe uma abordagem mecaniscista a qual bloqueia a "circulação libidinal", destruindo a alegria e espontaneidade das crianças.

  3. A competição inerente aos jogos desportivos e individuais e coletivos faz cair a empatia, compromete a sincronização inter-cerebral e faz perder a confiança entre as pessoas.

  4. A falta de confiança entre as pessoas isola-as e destroi o instinto social colocando-as numa atitude de comparação social competitiva (interdependência negativa).

  5. A procura de compensação para este isolamento social acontece através das adições e co-dependências como o consumismo compulsivo. A experiência de um vazio pode ser descrito em vários níveis:

    1. No plano social corresponde à ausência de ligações duradouras entre indivíduos e respetivas famílias e / ou sociedades locais, nações, tradições e ambientes naturais.

    2. Em termos existenciais, é a ausência de sentimentos vitais de pertença, identidade, significado e propósito.

    3. Em termos espirituais, pode-se chamar pobreza do espírito, falta de força espiritual, falta de lar da alma ou sentimento de abandono por Deus.

A nossa ação pedagógica torna-se objetivamente uma violência simbólica enquanto imposição, por um poder arbitrário, de uma arbitrariedade cultural. Como não definimos o nosso Projeto Individual da Existência, reproduzimos sem questionar aquilo que nos foi transmitido como uma "verdade científica" absoluta. Agimos mecânicamente, com a melhor das intenções, mas depressa sentimos um desfasamento entre o que sentimos e intuimos que deveria ser feito e aquilo que nos é pedido para fazer, o que provoca uma erosão da alma humana e dá-se uma deterioração da saúde mental.




Se queremos defender uma educação saudável, enquanto profissionais de Educação Física, devemos respeitar os imperativos biológicos das crianças, e defender a sua necessidade para brincar. A nossa tendência para forçar a EF no 1º ciclo, enquanto classe profissional, constitui mais um problema para as crianças em vez de uma solução.

  1. A Educação é uma responsabilidade da criança.

  2. A criança deve ter oportunidades ilimitadas para brincar.

  3. A criança deve ter a oportunidade para brincar com as ferramentas da sua cultura.

  4. Adultos facilitadores e não juizes.

  5. As crianças devem conviver e aprender com outras de idades diferentes.

  6. A aprendizagem deve ocorrer em comunidades estáveis do ponto de vista moral e democrático.




 

Concluindo


Aprender a dar sentido à vida é um dos aspetos fundamentais da Educação. A falta de sentido ou propósito na vida compromete a Longevidade porque na sua ausência, perde-se o gosto em participar no Jogo Infinito da Vida. Como já referimos anteriormente, o jogo infinito da vida continua e os jogadores deixam de participar nele quando se esgotam os seus recursos ou perdem a motivação, deixam de ter vontade. No Jogo infinito da vida não se joga para ganhar mas para garantir a continuidade da nossa participação e o nosso legado deve contribuir para que o jogo aumente a qualidade de vida e a felicidade dos seus participantes. Trata-se de uma visão a longo prazo alicerçada por uma consciência social plena.


O nosso cérebro é um órgão social e as reações fisiológicas e neurológicas estão diretamente relacionadas e são profundamente influenciadas pelas interações sociais. O tipo de dinâmicas interpessoais que as crianças experimentam ativam regiões do cérebro refletindo padrões cognitivos, neuronais e comportamentais associados a essas experiências pessoais e sociais.


Maurizio Meloni "The Social Brain meets the reactive genome: neuroscience, epigenetics and the new social biology" refere que alguns dos estudos mais significativos que estão por trás do recente e crescente interesse pela epigenética. Os investigadores da epigenética oferecem a chave do elo perdido relativamente à interação dinâmica entre a experiência e o genoma, no processo de construção dos circuitos neuronais, especialmente em períodos críticos de plasticidade. Este campo de investigação torna visível as vias moleculares que explicam como é que os fatores ambientais transientes podem conduzir a modificações duradouras nos circuitos neuronais e nas propriedades neuronais. Podemos afirmar que a epigenética pode ser vista como uma forma persistente de memória celular através da qual as memórias de acontecimentos ambientais são fixados no genoma. Ou seja, os ambientes educativos moldam significativamente as trajetórias comportamentais que perduram ao longo da vida.


Nós moldamos a natureza humana moldando as instituições nas quais as pessoas vivem e trabalham. (…) nós devemos questionar (…) que tipo de natureza humana queremos ajudar a moldar?

Barry Schwartz “Sabedoria Prática”


As situações e/ou realidades são criadas pelos sistemas e estes fornecem o apoio institucional, autoridade e recursos que permitem que determinadas ideologias e atitudes resultantes se manifestem tal como acontece!…

Philip Zimbardo “The Lucifer Effect”

​Perfil do aluno

A

B

​Modelo Educativo

Escola enquanto terminal Burocrático do Estado

​A Escola pertence à Comunidade. Desmonopolização e descentralização da educação.

​Ambiente Educativo

Ênfase na Pedagogia da Oposição

Ênfase na Pedagogia da Cooperação

​Jogos

​Oposição

Cooperação

​Interdependência

​Negativa

Positiva

​Raciocínio Moral

Inferior

​Superior


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  • Maurizio Meloni. The Social brain meets the reactive genome: neuroscience, epigenetics and the new social biology. Frontiers in Human Neuroscience. May 2014 | Vol. 8 | Article 309: PDF




As pessoas educam para a competição e esse é o princípio de qualquer guerra. Quando educarmos para cooperarmos e sermos solidários uns com os outros, nesse dia estaremos a educar para a paz.

Maria Montessori


Se olharmos com atenção à nossa volta, constatamos fácilmente que temos vindo a construir uma sociedade totalmente disfuncional a todos os níveis. Embora as nossas intenções sejam as melhores, estamos a ser traidos pelas escolhas que fazemos as quais programam os jovens para crenças auto-sabotadoras.

  • Temo que questionar, onde é que estamos a falhar?

  • Porque é que a nossa ação pedagógica se tornou numa violência simbólica para aqueles que servimos e para nós ao ponto de, em grande número, termos que procurar ajuda mental?

  • De que forma as nossas crenças são fonte de inconformidade biocultual?

  • Estamos preparados para questionar as nossas crenças?

  • Queremos ser parte do problema ou da solução?



Década do envelhecimento saudável (2021-2030)


  1. Procurar estratégias de mitigação do stress.

  2. Acordar todos os dias com um objetivo.

  3. Colocar menos carne e mais vegetais no prato.

  4. Degustar um "copo de vinho" com amigos todos os dias.

  5. Investir tempo de qualidade com a família.

  6. Comer de forma consciente e parar quando nos sintamos 80% cheios.

  7. Criar oportunidades para nos movimentarmos mais.

  8. Rodearnos de pessoas que apoiam comportamentos positivos.

  9. Aderir a uma comunidade "espiritual" com a qual nos sintamos identificados.



A Década do Envelhecimento Saudável (2021-2030) é uma oportunidade para reunir governos, sociedade civil, agências internacionais, profissionais, academia, comunicação social, educação e setor privado para dez anos de ações concertadas, catalíticas e colaborativas com o intuito de melhorar a vida das pessoas idosas, suas famílias e as comunidades onde vivem.

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  • OMS. Guia Global das Cidades Amigas das Pessoas Idosas. PDF

  • OMS. Decade of the Healthy Ageing: PDF



As 4 áreas de ação da década:



  1. De que forma a escola se pode envolver?

  2. Que parcerias podem ser feitas entre as escolas e os lares de 3ª idade?

  3. Que potencial educativo têm os idosos na escola?

José Ferreira-Alves e Rosa Novo referem no seu artigo, Avaliação da discriminação social de pessoas idosas em Portugal, que o progressivo envelhecimento da população significa que tem aumentado de forma significativa o número de pessoas idosas e, com esse aumento, a experiência de estar num mundo onde a adaptação, a boa saúde e o sucesso dos mais velhos parece ser constantemente desafiado pelos padrões vigentes numa cultura dominada por estereótipos que valorizam os símbolos da juventude (Performance). Ao longo do século passado várias culturas foram desenvolvendo instrumentos sociais diversos para proteger as crianças e promover o desenvolvimento no decurso da infância e da adolescência (Como vimos, comprometido pelas consequências das desigualdades sociais). Contudo, quando consideramos as pessoas de idade avançada – de terceira e de quarta idade, constatamos a evidência de que algumas culturas parecem ser ainda muito jovens para integrar, em condições de harmonia intergeracional e de valorização humana, uma larga quantidade de gerontes. Está em causa uma integração que garanta condições de desenvolvimento do potencial humano individual e de protecção e respeito pela dignidade e individualidade da pessoa idosa tal como acontece em outros períodos de idade.

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  • Jennifer Pereira. Perceção dos Jovens sobre as pessoas mais velhas - influência dos estereotipos nas relações intergeracionais. UCP. PDF

  • José Ferreira-Alves e Rosa Novo. Avaliação da discriminação social de pessoas idosas em Portugal. International Journal of Clinical and Health Psychology · January 2006. Vol. 6, Nº 1, pp. 65-77: PDF

  • Helena Maria de Sousa M. O. M. Dutra. O papel dos avós na promoção de estilos de vida saudáveis junto dos netos. UL-FML. Mestrado em Saúde Escolar 2008. PDF



Qual o papel dos avós na promoção de estilos de vida saudáveis relativamente às seguintes dimensões (Helena de Sousa e col.):

  1. Alimentação.

  2. Higiene.

  3. Sono.

  4. Autonomia.

  5. Atividade física.

  6. Brincar.

  7. Relação.

  8. Segurança.

 

Será que o nosso modelo democrático se orienta em benefício do bem-estar dos seus cidadãos?

Democracia direta

Democracia Representativa

​Definição

​É um sistema político em que o povo, diretamente e sem representantes, participa ativamente nas tomadas de decisões de um estado / país.

Consiste na escolha da população, por meio de eleições, de representantes para tomarem decisões no seu nome.

Características

​Todas as questões relacionadas à administração do estado / país são definidas pelo povo.

​O processo eleitoral ficou refém do Tweedismo (financiamento - primária do dinheiro: a campanha eleitoral depende de dinheiro - devemos questionar: Quem são os patrocinadores?)

​Resultado

​Democracia orientada pelo povo e vocacionada para os interesses do povo - sociedade justa e equitativa (Igualdades sociais)

​Democracia responsiva aos financiadores (Na Economia de mercado livre quem tem o capital pode comprar os candidatos). Os políticos ficam reféns dos interesses e agendas dos patrocinadores a quem devem favores.




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