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Foto do escritorJoão Jorge

Programas de Educação Física

Atualizado: 28 de jul. de 2023


Para se poder criticar de forma construtiva e fundamentada os Programas de EF e as Aprendizagens Essenciais, torna-se imperativo rever a literatura publicada na altura da sua conceção para se perceber outros pontos de vista relativamente aos mesmos. Torna-se também necessário compreender as preocupações, motivos e objetivos pedagógicos da altura da sua conceção comparando-os com a atual Investigação Pedagógica de forma transdisciplinar, "facilitadora da interpretação e compreensão das realidades na sua extensão e complexidade (Carlinda Leite, A articulação curricular como sentido orientador dos projetos curriculares).


Na edição de julho-agosto de 1987 foi publicado um artigo na revista Horizonte (Volume IV, número 20 - Dossier) sobre os "Programas de Educação Física". Este artigo é muito interessante porque permite perceber que nem todos partilhavam conceções idênticas. Uma equipa de Professores assumiu a responsabilidade de criar os Programas Pedagógicos de Educação Física, algo muito importante, tendo sido meritoriamente homenageada pela SPEF e CNAPEF no 12º Congresso Nacional de Educação Física.

  • Luís Bom (Coordenador)

  • Manuel Pedreira.

  • Francisco Carreiro da Costa.

  • João Jacinto.

  • Leonardo Rocha.

  • Jorge Mira.

  • Sebastião Cruz.

  • Lídia Carvalho.


A elaboração dos PNEF era uma questão tão antiga como a própria história da entrada desta disciplina na Escola Portuguesa, afirma Alfredo Melo de Carvalho. Refere que a elaboração dos Programas e a sua aplicação prática, integra na sua complexidade, um grande número de questões fundamentais que se referem ao próprio significado da ação do educador.


(...) A. de Carvalho escreve assim: "Tudo aponta para que, mais uma vez, um grupo de iluminados elabore um conjunto de diretrizes a que, por princípio, todos os educadores devem obedecer no seu trabalho", (observação: quer concordem ou discordem).

O autor coloca a seguinte questão:


  • É legítimo, é correto, é eficaz, serve realmente os interesses da Educação, a perspectiva clássica que entrega a um pequeno grupo, por mais competente que ele seja, a elaboração dos Programas?


"Temos acompanhado a elaboração de sucessivos textos nestas condições, para sabermos como esta via é incorreta por que elimina liminarmente qualquer participação direta e intensa daqueles que as deverão aplicar. É certo que, muitos destes, utilizando o comodismo corrente e/ou subavaliando as próprias capacidades, entendem serem os universitários os mais indicados para elaborarem os Programas (está bem de ver que não está aqui em causa a competência desses elementos, mas no seu terreno específico). Erro crasso que a nossa Educação tem pago com a bem visível inadequação dos textos e normas à realidade das Escolas, com o confusionismo doutrinário e com uma grande dose de manipulação ideológica disfarçada pelo peso do prestígio do discurso dito científico".

Alfredo Melo de Carvalho refere que muitos utilizam como "argumento capcioso" para justificar este modelo e respetivos Programas (atuais AEEF), que a EF "se deve alinhar pelas outras disciplinas (paridade) para assim lhe ser reconhecida uma dignidade que sempre lhe tem sido negada". Sublinha que a "Dignidade da Educação Física não passa por um alinhamento cego e acrítico, mas pela afirmação convicta e fundamentada da sua originalidade como ação formativa insubstituível. Só desta forma pode contribuir para a transformação geral que todos sentem necessária".


Alfredo Melo de Carvalho referia que os Programas constituem um problema essencial que tem necessariamente de ser encarado em toda a extensão (...)" Alertava no sentido dos Professores de EF participarem na discussão caso contrário poderiam ter que assumir um documento cuja ideologia fosse discutível. Alertava para a imposição de uma auto-planização (Homogeneização) da ação do educador sem qualquer salvaguarda do legítimo direito ao pluralismo que significa liberdade pedagógica. Afirmou claramente que "os Programas constituem instrumentos importantes para a reorganização da disciplina e para a inovação pedagógica.


Embora os Programas de Educação Física tenham sido revogados pelo despacho n.º 6605-A/2021 prevalecem as aprendizagens consideradas essenciais que são na verdade, um programa simplificado mas que obedece ao mesmo princípio ideológico.


O que é um programa?


Programa:

  • Conceito: declaração prévia daquilo que se pondera fazer relativamente a alguma matéria ou ocasião.

  • Ensino: enumeração das matérias que se hão-de ensinar num curso.

  • Informática: conjunto de instruções que definem tarefas a serem executadas pelo computador:

    • Quem possui conhecimentos para produzir programas é chamado programador.

    • Programação é o processo de criação de um conjunto de instruções que dizem ao computador/terminal como realizar uma tarefa. A Programação pode ser feita usando diferentes linguagens.

    • A linguagem de programação (LP) é um método padronizado, formado por um conjunto de regras sintáticas e semânticas, de implementação de um código fonte - que pode ser compilado e transformado num programa de computador (Programa Motor - Comportamento). A LP permite que um programador especifique precisamente quais os dados que o computador (Professor/Aluno) deve exprimir sob a forma de algoritmos.

Currículo: é o conteúdo que um programa tem para oferecer a um aluno, e este currículo é definido ou determinado por um órgão externo que tem autoridade para administrar o programa aos alunos.


​Programa

​​Conjunto de instruções que definem as "tarefas" a serem executadas pelos alunos.

​Programadores

​Equipa dos Programas

​Programação

Processo de criação de um conjunto de instruções que definem as tarefas a serem realizadas utilizando uma determinada linguagem (Crenças - Conceção de Educação Física: justificação; objetivo; métodos; avaliação)

​Linguagem de Programação

​​Método padronizado, formado por um conjunto de regras sintáticas e semânticas, de implementação de um código fonte que permite ao professor/aluno a sua operacionalização sob a forma de algoritmos (sequência finita de ações executáveis que visam obter uma solução para um determinado tipo de problema). Um currículo é o algoritmo.

O termo Programação, no campo da Programação Neuro-Linguística refere-se às nossas experiências e aprendizagens, aos Programas Mentais que, consciente ou inconscientemente, criamos. Tal como computadores, funcionamos com base nos dados que vamos introduzindo no nosso "disco" ao longo da nossa história de vida. Os agentes ou programadores dos nossos programas foram os pais, familiares, pares, professores os quais contribuíram para os nossos "programas" que determinam o nosso comportamento (algoritmos)


O termo Neuro, representa um princípio chave simples, tudo o que nós pensamos, sentimos e fazemos é produto do que acontece no nosso sistema nervoso. Todo o nosso comportamento tem origem neurológica. É interessante verificar o paralelismo entre a PNL e a Psicomotricidade, vejamos o que afirma Vitor da Fonseca:


A função práxica, tem a ver com a capacidade de programar o movimento como produto final (comportamento = execução), tendo atrás de si imensos processos internos de elaboração (Plano = origem neurológica). A praxia envolve, portanto, um plano e uma execução. O Plano é uma função psicológica (Neurológica), a execução é uma função motora (Comportamento), ou seja, a expressão da riqueza dessa organização. (...) Daí a importância de estudarmos os vários componentes psicomotores, e como é que eles se organizam para produzirem o movimento belo, simples, económico e harmonioso, que traduz o comportamento motor superiormente organizado (...).

Por último, a Linguística refere-se à forma como o nosso processo de pensamento se estrutura e é estruturado pela linguagem e à forma como a linguagem, verbal e não verbal, reflete os nossos "Programas Mentais".


Podemos inferir que os Programas de Educação Física/Aprendizagens Essenciais, recorrendo a uma linguagem própria (Literacia Desportiva), definem um conjunto de instruções, operacionalizadas sob a forma de algoritmos (sequência finita de ações executáveis que visam obter uma solução para um determinado tipo de problema), que determinam, através do tipo de experiências codificadas por um tipo de habilidades motoras simples ou compostas e complexas, os Programas Mentais que passam a determinar o nosso comportamento.


  • Ordem dos Psicólogos. A Programação Neuro-Linguistica (PNL) Uma perspetiva Crítica: PDF

  • Wissal Boughattas et col. Mental Training four young athlete: a case study of NLP practice. SSM- Mental Health 2 (2022): PDF

  • Vlad Teodor Grosu et col. Metalanguage and sensory sub-modalities in mental training techniques through neurolinguistic programming. Cypriot Journal of Educational Sciences. Vol. 14, Issue 4 (2019) 482-491: PDF

  • Paul Tosey. Neuro-Linguistic programming as an innovation in education and teaching. PDF

  • Oksana Roach and Daniel Wisecup. Neurolinguistic Programming in Sports. PDF


Ou seja, por outras palavras, os Programas de Educação Física codificam determinadas experiências que têm um impacto profundo na construção dos Programas Mentais que se refletem no comportamento dos alunos, futuros adultos que, através da enculturação, perpetuam essas crenças.


Questão essencial: serão os Programas Mentais, os conectomas (redes neuronais) construídas nas aulas de EF, favoráveis a um perfil de aluno orientado para valores Construtivos, Humanistas regido por uma Consciência Social Plena?


  • Neurociências - privilegiar a Pedagogia Cooperativa (Métodos Cooperativos de Aprendizagem e Jogos Cooperativos): Já abordamos em artigos anteriores os estudos das neurociências a nível da dinâmica de Sincronicidade Inter-Cerebral que mostraram que a cooperação tem vantagens superiores a nível do cérebro e dos componentes da personalidade. Constatamos que o comportamento cooperativo evoca a sincronicidade intercerebral no córtex pré-frontal e tempo-parietal. O cérebro humano é um órgão social e as reações fisiológicas e neurológicas estão diretamente relacionadas e são profundamente influenciadas pelas interações sociais. As cognições sociais da dinâmica interpessoal de competir (literacia desportiva) ativam regiões distintas do cérebro refletindo diferentes padrões cognitivos, neuronais e comportamentais das cognições sociais próprias das dinâmicas interpessoais da cooperação. Quando alguém é percebido como competidor ou concorrente, a capacidade para a empatia cai significativamente.



  • Desenvolvimento Moral: Também, o objetivo do desporto, ao contrário do diálogo moral de Norma Haan, não é equalizar as relações o que pode ser visto como um comportamento egoísta, egocêntrico ou de interesse próprio e, como tal, é a antítese da ação moralmente madura quando analisada à luz dos níveis morais de Haan. Ou seja, os dilemas do desporto podem provocar níveis mais baixos de raciocínio moral como respostas contextualmente apropriadas, mas desapropriadas relativamente aos desafios da vida que nos pede uma moralidade superior e uma consciência social plena.

    • Carwyn Jones and Michael John McNamee. Moral Reasoning, Moral Action, and the Moral Atmosphere of Sport. Sport, Education and Society, Vol. 5, No. 2, pp. 131–146, 2000: PDF

  • Redundância pela semelhança estrutural: Não faz sentido repetir as mesmas matérias em todos os ciclos de ensino ou realizar desportos que proporcionem experiências MDE muito semelhantes, porque o objetivo da EF não é a iniciação à prática desportiva, mas sim a literacia física, privilegiando o ecletismo (O desporto não é um fim em si mesmo mas um meio para o desenvolvimento da personalidade). Torna-se redundante colocar os alunos em contacto com todos os jogos desportivos coletivos das AEEF na medida que a abordagem de um deles permite que os alunos entrem em contacto com os mesmos pressupostos técnicos e táticos, regulamentares, comuns a todos eles. Desta forma sobra muito mais tempo para explorar outras formas de expressão motora, outras metodologias e sobretudo permite espaço para a divergência e criatividade (salvaguarda do legítimo direito ao pluralismo que significa liberdade pedagógica).

    • Jogos de invasão territorial com semelhança estrutural (basquetebol, andebol, futebol, futsal, raiguebi, floorball, frisbee, etc..).

    • Jogos de rede/parede com semelhança estrutural (ténis, badminton, squash, voleibol, pádel), etc...


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  • Filipe Manuel Clemente. Uma visão integrada do modelo Teaching Games For Understanding: adequando os estilos de ensino e questionamento à realidade da EF. Rev. Bras. Ciênc. Esporte. Vol. 36, n.º2, pp. 587-601. abril/junho 2014: PDF

  • Filipe Manuel Clemente. Princípios pedagógicos do teaching Games for Understanding e da Pedagogia Não-Linear no Ensino da EF. FCDEF-Coimbra: PDF

  • Israel Teoldo da Costa e col. O Teaching Games for Understanding (TGfU) como modelo de ensino dos jogos desportivos coletivos. Rev. Palestra, Vol. 10, pp: 69-77. 2010: PDF


  • Desmonopolizar e descentralizar a EF: Desmonopolizar a educação e restituí-la às suas comunidades locais de pertença que assumem 80% da responsabilidade na construção do currículo. A escola tem que deixar de ser um terminal burocrático do Estado. E isso faz-se restituindo a escola às suas comunidades locais de pertença (Roberto Carneiro - PDF). Devemos abandonar a nossa obsessão em querer controlar o destino dos outros e perceber que uma sociedade floresce onde existe espaço para a ciência do Indivíduo em vez da ciência do grupo. O filósofo Português, José Gil, afirma que só existe invenção, inovação, produção criativa deixando margem para o imprevisível, o inavaliável, a irrupção da singularidade!…

  • Ações Educativas de sucesso: EF centrada no Ensino das Estratégias. O modelo auto-regulatório organiza-se em 3 fases: Planificação - o aluno pensa naquilo que deseja fazer e prepara um plano para saber quando e como vai realizá-lo | Execução - coloca em prática e monitoriza o plano | Avaliação - determina em que medida os objetivos foram cumpridos para concretizar esse plano.

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  • Fernando Jorge Costa Figueiredo. Como ajudar os alunos a estudar e a pensar? Auto-regulação da aprendizagem. Educação, Ciência e tecnologia. PDF

  • Adelina Lopes Silva e col. A auto-regulação da aprendizagem: Estudos Teóricos e Empíricos. Revista do Mestrado em Educação. Vol. 10, n.º 19, pp. 58-74, 2004: PDF

  • Pedro Miguel Lopes de Sousa. Aprendizagem auto-regulada no contexto escolar: uma abordagem motivacional. Psicologia, 2006: PDF

  • Ali Abbas H. Nejhad and Mostafa Hosseinimehr. Effect of motivational beliefs and self-regulated learning strategies on achievement motivation of student in physical education schools (Application of structural equations). App. Sci. report. 10(1), 2015: 1-7: PDF

  • Athanasios Kolovelonis and Marios Goudas. The development of self-regulated learning of motor and sport skills in physical education: a review. Hellenic Journal of Psychology, Vol. 10 (2013), pp. 193-210: PDF

 

Sociedade Desportivizada


Considerando que atualmente a sociedade se organiza em torno da ideologia da competição, concorrência e consumismo, o modelo de formação desportivo faz sentido para preparar os jovens para esta organização social e política. Porém, quem tem estado atento aos novos valores da economia que surgiram depois da crise financeira de 2007-2008, constata o surgimento de uma força cultural e económica forte que tem reinventado não só o que consumimos, mas como consumimos que se designa por "Economia Colaborativa" ou "Economia da Partilha".


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  • Rachel Botsman. Collaborative Consumption. NESTA: PDF

  • Banco do Tempo

  • Banco do tempo. A experiência do banco do tempo em Portugal: Tecendo sentidos e mudanças. PDF

  • Michel Bauwens, P2P Foundation (2012); “Synthetic Overview of the Collaborative Economy”; P2P Foundation; PDF;

  • European Comunity, Business Innovation Observatory, “The Sharing Economy – Accessibility Based Business Models for Peer-to-Peer markets”, Case Study; PDF.

  • NESTA – Collaborative Lab – making sense of the uk collaborative economy: PDF;

  • Ravi Gururaj. The Rise of the Sharing Economy - The Indian Landscape, october 2015. NASSCOM. PDF


O Homem do século XX foi reduzido a dois valores relacionados com poder e os quais lhe dão estatuto, reconhecimento e liberdade: competir e consumir. Os atuais valores desta sociedade Capitalista-Autista condicionam as nossas mentes a acreditar que o sucesso advém do facto de se querer mais, necessitar mais, ser mais e fazer mais (citius, altius, fortius). Esta desordem de Hiper-consumismo é motivada pela crença que o dinheiro, e a acumulação instintiva de tudo o que o dinheiro pode comprar é equivalente à felicidade.

  1. Competir - provar que é superior aos outros (a vitória garante a superioridade aos olhos dos adversários e o acesso a privilégios).

  2. Consumir - provar que é superior aos outros (consumo como forma de distinção e estratificação social: hiperconsumismo).

A atual chave para a prosperidade económica passa pela promoção premeditada e planeada da insatisfação. Se todos estivéssemos satisfeitos e felizes, ninguém quereria comprar coisas novas (supérfluas) ou competir para provar o seu valor pessoal (Comparação social)!... Talvez nos orientássemos mais "Rumo à Transcendência" como afirma Manuel Sérgio e compreenderíamos que o nosso valor é Intrínseco.


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  • Raquel Ribeiro. O consumo: uma perspectiva sociológica. VI Congresso Português de Sociologia 25 a 28 de junho 2008: PDF

  • Maurice E. Stucke. Is competition always good? Journal of Antitrust Enforcement, Vol. 1, N.º 1 (2013), pp. 162-197: PDF

  • Bruno S. Frey and Stephan Meier. Social Comparisons and Pro-Social Behaviour: Testing "Conditional Cooperation" in a field Experiment. The American Economy Review, december 2004. PDF

  • Erin Vogel et col. Social Comparison, social media, and self.esteem. Psychologie of Popular media Culture, 2014, Vol. 3, nº 4, 206-222: PDF

  • Thomas Mussweiler and Fritz Strack. Consequences of social comparison. Selective accessibility: PDF

  • Abrahma P. Buunk e col. Social Comparison: The end of a theory and the emergence of a field. OBHDP 102 (2007) 33-21: PDF

  • Judith B. White et col. Frequent Social Comparisons and Destructive Emotions and Behaviours: The dark Side of Social Comparisons. Journal of Adult Development, Vol. 13, º 1, march 2006: PDF

  • Monica K. Miller et col. Social Comparison Theory. 2016: PDF

  • Matthew Baldwin and Thomas Mussweiler. The Culture of Social Comparison. PNAS. vol. 115 | nº 39: PDF | PDF

  • Tim Futing Liao. Income Inequality, Social Comparison and hapiness in the United States. Socius: Sociological Research for a Dynamic World. Vol. 7, 2021, 1-17: PDF

A Cooperação e a competição são dois dos comportamentos sociais mais importantes na sociedade humana. Segundo uma perspectiva evolutiva tradicional, a cooperação envolve a partilha de recursos por forma a aumentar a segurança do grupo e o acesso fiável a recursos importantes. Em contraste, a competição envolve a monopolização dos recursos para maximizar as vantagens individuais com base na sobrevivência do mais forte. Uma grande quantidade de investigação tem mostrado que as interações sociais associadas à cooperação e competição possuem efeitos duradouros a nível do comportamento humano e da motivação. Os aderentes da perspectiva humanista argumentam que quando se pretende orientar as pessoas para objetivos partilhados, a cooperação é muito mais benéfica para a motivação humana e para a produtividade. Através da cooperação os indivíduos podem-se complementar e utilizar os benefícios da associação no sentido de alcançar objetivos partilhados. Os comportamentalistas defendem que a competição promove nos participantes uma maximização do seu potencial para ultrapassar os seus oponentes. Tudo depende do perfil de personalidade e modelo social que queremos investir:


  1. Competição - valorização da dimensão cognitiva e racional: Numa situação competitiva, a teoria do jogo diz-nos como (pede-nos para) sermos espertos (inteligentes). Segundo a Teoria do Jogo de Nash, os atores no modelo competitivo (Jogos Finitos) procuram o Equilíbrio de Nash. O que torna este jogo tão interessante é o facto do Equilíbrio de Nash representar a decisão em que ambos os jogadores optam pela “estratégia racional” mas que os deixa numa situação mais desvantajosa do que aquela que envolve cooperação.

  2. Cooperação - Valorização da Dimensão Social e Moral: Neste tipo de jogo, os jogadores procuram a Solução Social Ótima: a distribuição ideal de recursos na sociedade, considerando todos os custos e benefícios externos, bem como os custos e benefícios internos. Numa situação cooperativa, a teoria do jogo diz-nos como (pede-nos para) sermos justos.

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  • Niels J. Van Doesum e Dion A. W. Van Lange. Social Mindfullness: Skill and Will to navigate the Social World. Journal of Personality and Social Psychology 2013. Vol. 105, Nº 1, pp. 86-103: PDF

  • Xin Zhao e colaboradores. Leaving a Choice for Others: Children's Evaluations of Considerate, Socially-Mindfull Actions. Child Development, july/August 2021, Volume 92, Nº 4, pages 1238-1253: PDF

  • Imke L. J. Lemmers-Jansen e colaboradores. Giving others the option of choice: An fMRI study of low-cost cooperation. Neuropsychologia 109 (2018). page. 1-9: PDF

  • Michela Balconi and Maria E. Vanutelli. Cooperation and Competition with Hyperscanning Methods: Review and Future Application to Emotion Domain. Frontiers in Computational Neuroscience. eptember 2017 | Volume 11 | Article 86: PDF

  • Jean Decety et col. The neural bases of cooperation and competition: an fMRI investigation. Neuroimage. 2004 October ; 23(2): 744–751: PDF

  • Minhye Lee et al. Cooperative and Competitive Contextual Effects on Social Cognitive and Empathic Neural Responses. Frontiers in Human Neuroscience. June 2018 | Volume 12 | Article 218: PDF

  • Artur Czeszumsk el al. Cooperative Behavior Evokes Interbrain Synchrony in the Prefrontal and Temporoparietal Cortex: A Systematic Review and Meta-Analysis of fNIRS Hyperscanning Studie. ENEUR. March/April 2022, 9(2). pp 1–9: PDF

 

Conclusão


Democratização da Educação Física.


A Simplificação e personalização das Aprendizagens Essenciais deve ser uma prioridade.


  • Terminar com o Monopólio da Pedagogia Competitiva: abandonar a prescrição das matérias (subáreas), apresentando-as apenas como um leque de possibilidades contempladas no anexo 3. Os alunos experimentam apenas aquelas modalidades cujas características lhes permitem compreender a dinâmica dos Jogos de Invasão territorial e/ou de rede-parede (interdependência negativa) ou modalidades individuais com características diferentes: ex: "Orientação", "Multiatividades", "Nadar", "Pedalar", "Patinar", etc.... Compreendem que as experiências MDE (Mecânica, Dinâmica e Estética) deste tipo de atividades tem um determinado impacto a nível dos seus Programas Mentais, respetivos comportamentos e valores que interiorizam. Por outro lado, o PASEO encoraja sobretudo o pensamento crítico e a solução criativa de problemas contrastante com a atual tendência do ensino, concebido para distribuir os alunos numa escala com base na sua performance num teste normalizado suportado por um currículo também ele normalizado ("Tailorismo"). O sistema de ensino é equivalente à competição desportiva uma vez que se centra num ranking unidimensional que incita cada estudante a fazer a mesma coisa (tal como no treino desportivo da técnica padronizada), comparando-se entre si relativamente a um padrão normalizado. "Sê o mesmo que todos os outros, apenas melhor" (Todd Rose, The End of Average - How we succed in a world that values sameness").



  • Introduzir a Pedagogia Cooperativa: os Métodos Cooperativos de Aprendizagem e Jogos Cooperativos permitem aos alunos explorar este tipo de experiências MDE, comparar com o modelo Pedagógico da Oposição e constatar o impacto emocional nos seus Programas Mentais, comportamentais e respetivos valores.


  • Abandonar a tendência para utilizar uma linguagem única que circunscreva a aprendizagem a uma sequência finita de ações executáveis que prescrevam soluções pré-definidas e fechadas para a resolução dos problemas. O currículo deve abandonar a sua característica algorítmica e centrar a sua orientação nas estratégias. Algoritmos são esquemas de pensamento amplamente usados ​​na vida quotidiana. As instruções e etapas contidas num algoritmo devem ser precisas, ou seja, não devem deixar espaço para qualquer tipo de ambiguidade. Porém, existem inúmeras formas e caminhos possíveis para se investir num estilo de vida ativo e saudável, não existe uma interpretação ou solução única. Cada aluno deve saber definir os seus objetivos, recolher informação necessária para construir o seu próprio programa de atividade física e monitorizar os parâmetros e/ou indicadores de saúde.

  • Abandonar a tendência para centralizar - Investir no Modelo Derrogatório: cada escola deve definir o seu projeto curricular. Haverá escolas onde a comunidade educativa sentirá, eventualmente, uma forte identidade com a Literacia Desportiva e o Modelo de Siedentop e terá toda a autonomia e legitimidade para implementar Aprendizagens Essenciais em torno desta Conceção de Educação Física. Porém, outras escolas haverá, cujo Contexto Cultural esteja mais vocacionado e orientado para uma Conceção Sócio-Crítica da Educação Física. Esta Comunidade Educativa sentir-se-á identificada com uma cultura do movimento que transcenda o modelo desportivo implementando a Psicomotricidade, Psicocinética, Jogos Cooperativos, Método de Treino Natural, Educação Somática entre outras experiências que promovam Programas Mentais, comportamentos e Valores mais alinhados com uma sociedade cooperativa onde a Educação para a paz prevaleça.

  • Algoritmos vs Plasticidade Mental: atualmente o Perfil do Aluno à Saída da Escolaridade Obrigatória pede-nos Plasticidade Neuronal - "A plasticidade cerebral refere-se à capacidade do sistema nervoso para mudar a estrutura e o seu funcionamento ao longo da sua vida, como reação à diversidade do meio envolvente". Não queremos alunos que aprendam respostas algorítmicas mas respostas adaptativas e criativas e procurem novas soluções, mais adequadas, para os mesmos problemas e/ou problemas novos. Com a finalidade de aprender a marcar fisiologicamente o cérebro, a aprendizagem deve originar mudanças no comportamento. Por outras palavras, a nova aprendizagem tem que ser um comportamento pertinente e necessário. Parece que o "meio envolvente" pode induzir mudanças na expressão génica neuronal (Ciência da Epigenética). O contexto sócio-cultural da aprendizagem é muito importante (A cultura de escola e meio envolvente). Mais importante que aprender matérias (Algoritmos) os alunos devem aprender Estratégias. O pensamento estratégico é essencial para o ser humano, e pode ser aplicado em várias situações, tanto no âmbito laboral, como no contexto pessoal (Estilos de vida saudáveis). Existem também vários jogos de estratégia (de oposição e cooperação) que servem para estimular e desenvolver o pensamento estratégico dos jogadores/alunos (Ex: "Jogo da Paz Mundial").

  • Abandono das Provas de Aferição: a dignidade da EF não passa por um alinhamento cego e acrítico (paridade da Educação Física face às restantes disciplinas no Ensino), mas pela afirmação convicta e fundamentada da sua originalidade como ação formativa insubstituível (Alfredo Melo de Carvalho). Se estamos interessados no Modelo da Educação, não começamos a partir da mentalidade da linha de produção (Conformidade e Normalização/Testes Normalizados), devemos ir exatamente na direção oposta. Sir Ken Robinson “Changing Education Paradigm” RSA Animate. Devemos privilegiar a unidade na diversidade em vez da unidade pelo uniformismo ou "Mesmismo". As “Provas de Aferição” e os “Testes de Aptidão Física” (Fitescola©) são instrumentos normalizados: a investigação é hoje abundantíssima nesta matéria e poderíamos sintetizar os principais desajustamentos dos testes e dos exames nos seguintes pontos:

    1. Sendo normalizados, não reconhecem o direito à diferença nem às circunstâncias individuais.

    2. Privilegiam o conhecimento e a memória (automatismos motores), ignorando ou relegando para segundo plano as formas superiores de inteligência.

    3. Ignoram a escola dos valores e dos princípios: democracia, liberdade, tolerância, empatia, espírito de cooperação, as virtudes cívicas, os valores morais e éticos, as qualidades de trabalho…

    4. Só avaliam os produtos, desprezam os processos de aprendizagem.

    5. Não são instrumentos de medida minimamente fiáveis e rigorosos.

    6. Não estimulam o trabalho diário. O aluno só se prepara quando está pressionado pelo teste ou pelo exame.

    7. Favorecem uma relação instrumental com o saber: não se estuda por gosto, pelos benefícios do saber em si mesmo, mas para passar no exame. O que o professor ensina, o que o aluno estuda é o exame.

    8. Os testes e os exames absorvem tempo e trabalho desmedidos que seriam bem mais úteis se fossem investidos em tarefas de aprendizagem.

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  • Steven J. Howard et col. The Method of educational assessment affects children's neural processing and performance: behavioural and fMRI Evidente. npj Science of Learning: PDF

  • S. J. Howard et col. Behavioral and fMRI evidence of the different cognitive Load of domain-specific assessment. Neuroscience 297 (2015) 38-46: PDF

  • David Rear. One Size fits all? The limitations of Standardised assessment in critical thinking. Assessment & Evaluation in Higher Education, 2019, Vol. 44, n.º 5, 664-675: PDF

  • Manisha Kaur Chase. Critical assessment: a student-centered approach to Assessment. University of California: PDF

  • Vernon G. Smith and Antonia Szymanski. Critical Thinking: More than Test Scores. International Journal of Educational Leadership Preparation, Vol. 8, N.º 2, october 2013: PDF

  • L. Todd Rose, Parisa Rouhani and Kurt W. Fischer. The Science of the Individual. Journal Compilation © 2013 International Mind, Brain, and Education Society and Blackwell Publishing. Volume 7—Number 3: PDF

  • Stephen G. Sireci. Standardization and understandardization in educational Assessment. Educational Measurements: Issues and Practices fall 2020, Vol. 39, n.º 3, pp. 100-105: PDF

    • Rigidez leva à exclusão;

    • Devemos compreender as várias dimensões da heterogeneidade que existem nas populações de pessoas que testamos e introduzir essa compreensão no processo de normalização.


  • Foco no controlo interno: Peter Gray afirma que o “declínio da brincadeira está relacionado com a subida de psicopatologias nas crianças e adolescentes”. Não considero a reação de recusa ou de rejeição das aulas de EF uma psicopatologia, mas antes uma escolha consciente relacionada com o facto de se sentirem sobrecarregados com obrigações escolares e sobretudo com a falta de espaço para poderem decidir o tipo de atividades e jogos que preferem fazer. As crianças foram desenhadas, pela seleção natural, para brincar. Sempre que as crianças têm liberdade para brincar, elas fazem-no. A extraordinária propensão humana para brincar na infância, e o seu valor, manifesta-se mais claramente nas culturas de caça-recoleção. O facto das crianças, nestas culturas, brincarem e explorarem livremente desde manhã até ao fim do dia, todos os dias, permite-lhes adquirir as competências e atitudes necessárias para se tornarem adultos bem-sucedidos. Atualmente as oportunidades para as crianças brincarem no exterior com outras crianças, de forma livre e espontânea, tem declinado continuamente. Neste mesmo período, tem-se verificado um aumento dos índices de ansiedade, depressão, sentimentos de desamparo e narcisismo, nas crianças e adolescentes. Peter Gray demonstra a existência de uma relação psicopatológica entre a diminuição da brincadeira livre e os desequilíbrios emocionais (…). Os investigadores sabem que a ansiedade e depressão está fortemente correlacionada com o sentido pessoal de controlo ou falta de controlo nas nossa vidas. Aqueles que acreditam ou sentem que possuem maior controlo sobre o seu próprio destino (autonomia), possuem menor probabilidade para manifestar ansiedade ou depressão do que aqueles que se sentem vítimas das circunstâncias que ultrapassam o seu controlo (falta de autonomia). Julian Rotter no final dos anos 50 desenvolveu um questionário com uma escala para avaliar o que designou por “Escala Interna-Externa do Foco de Controlo” (Internal-External Locus of Control Scale). O foco no controlo interno significa que o individuo sente que controla, o foco no controlo externo significa que o indivíduo sente-se controlado pelas circunstâncias ou por uma pessoa externa – Heteronomia). Foi feita uma análise dos resultados dos estudos que usaram esta escala em grupos de estudantes desde 1960 até 2002 e descobriram que neste intervalo de tempo, as médias mudaram dramaticamente do sentimento de Controlo Interno para o Controlo Externo no limite da escala. A mudança foi tão significativa que a média dos jovens, em 2002, declarava uma grande falta de controlo pessoal. Da análise dos estudos em crianças dos 9 aos 14 anos, entre 1971 e 1998, descobriu-se que o aumento do controlo externo foi ainda maior na escolaridade elementar do que nos estudantes do 3º ciclo e/ou secundário (usando a nossa terminologia). Simultaneamente a este aumento do controlo externo pelos adultos tem-se verificado um aumento da depressão e ansiedade o que permite estabelecer uma relação entre ambas.

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  • Carly Wood and Katie Hall (2015). Physical Education or Playtime: which is more effective at promoting physical activity in primary school children? PDF

  • Arif Azlan et col. Playing Traditional games vs free-play during physical education lesson to impove physical activity: a comparison study. Pedagogy of physical culture and sports. PDF

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  • Peter Gray. (2011); “The Decline of Play and the Rise of Psychopathology in Children and Adolescents”; American Journal of Play; Vol. 3, number 4; pp. 443-463

  • Peter Gray; “Free to Learn – Why Unleaching the Instinct of Play will make our children Happier, More Self-reliant, and better students for life”; baric Books

  • Peter Gray (2011); “Freedom to Learn – The roles of play and curiosity as foundations for learning”; Psychology Today Blog

  • Maria da Soledade Barradas Estríbio. As atividades de enriquecimento curricular no currículo do 1º ciclo do ensino básico - Uma abordagem considerando a opinião dos destinatários. Dissertação de mestrado na Faculdade de Ciências e Tecnologias da UNL.



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