Para haver uma mudança de paradigma na Educação Física no sentido da Motricidade Humana não basta introduzir o conceito "holístico" no atual discurso.
Volto a citar, obviamente, Manuel Sérgio porque é sem dúvida uma referência quando queremos falar de Motricidade Humana. Manuel Sérgio introduz o conceito de "Transcendência" e vou transcrever algumas passagens do livro onde esta palavra surge, Motricidade Humana, uma Nova Ciência do Homem (UTL-ISEF, 1989):
o Homem é um ser itinerante e práxico, a caminho da Transcendência (pág. 38);
O Homem percebe-se distinto das coisas porque se sabe em movimento intencional para a transcendência, ou seja, para a realidade considerada na sua totalidade.
A transcendência torna presente o possível, na história humana. Daí o ser difícil ao Homem circunscrever-se nos limites fechados da imanência;
O licenciado (ou mestre, ou doutor) em motricidade humana é assim o agente de ensino, ou o investigador, ou o técnico, que, no exercício da sua profissão, procura a libertação dos corpos, rumo à transcendência, rumo ao possível.
Imanência | Transcendência |
É um conceito filosófico e ontológico que significa a presença interior de algo ou uma qualidade como parte de um ser, ou do ser como parte dela, sendo antitético ao conceito de transcendência. Mundo sensível dos fenómenos transitórios, manifestações imanentes das formas transcendentes e delas participam. | Significa "ir além", caráter daquilo que transcende, é exterior e superior em relação à essência de algo. Mundo Inteligível das Ideias transcendentes, eternas e imutáveis (Platão). |
Esta dimensão do discurso de Manuel Sérgio torna-se motivo de dissonância cognitiva para todos aqueles que acreditam e defendem o atual Paradigma da EF que vincula os seus objetivos e conteúdos de forma instrumental ou total ao modelo desportivo (literacia desportiva) - Ciências do Desporto (desenvolvimento estritamente materialista).
As políticas educativas privilegiam as escolhas curriculares nas escolas orientadas para a melhoria da competitividade no desenvolvimento da criatividade e da crítica através da ciência e tecnologia (áreas ditas académicas). Estas áreas designam-se por STEM, um acrónimo da língua inglesa para "science, technology, engineering and mathematics", que representa um sistema de aprendizagem científica, o qual agrupa disciplinas tais como a "ciência, tecnologia, engenharia e matemática" (CTEM). O PISA (Programme for International Student Assessment) centra a sua atenção sobretudo na Leitura, Matemática e Ciência. O relatório PISA avalia a Resolução Colaborativa de Problemas (PDF) e a Educação Física pode contribuir significativamente para esta competência através da implementação de Pedagogia Cooperativa e Jogos Cooperativos.

A Educação Física é uma área considerada não académica e por isso não avaliada pelo PISA. Pelo facto da Educação Física ainda lutar pelo reconhecimento e a paridade na educação, obviamente que a associação às Ciências do Desporto lhe dão um caráter mais objetivo, quantitativo, mensurável e científico.

A Educação Física, para justificar a sua importância, recorre também a vários argumentos que provam a sua contribuição para a formação integral dos jovens:
Contribui para a melhoria dos resultados no Português e da Matemática através da oxigenação e nutrição do cérebro (medo dos baldios neuronais).
Adotou as ciências exatas como a biomecânica, estatística, matemática, física, fisiologia, bioquímica, etc, numa área de investigação que designou por Ciências do Desporto e que lhe dão um caráter mais científico e académico.
A Educação Física também procura através das Ciências do Exercício e Saúde justificar a sua importância através de estudos científicos que mostram a correlação entre a prática da atividade física e a diminuição dos fatores de risco (Saúde).
Procura ainda elevar o seu estatuto e reconhecimento associando-se ao Movimento Olímpico, uma Instituição de caráter internacional que, através da sua Carta Olímpica, afirma colocar o desporto ao serviço da paz e do desenvolvimento harmonioso do Ser Humano.
Cointribui para a literacia física dos jovens e para compensar a desordem por défice de exercício (Avery D. Faigenbaum e Gregory D. Myer afirmam que embora os benefícios da atividade física regular sejam bem conhecidos, descobertas epidemiológicas recentes indicam que um número crescente de jovens não são tão ativos como deveriam ser - PDF)
Avery D. Faigenbaum and Gregory D. Myer. Exercise Deficit Disorder in Youth: Play Now or Pay Later. American College of Sports Medicine. Volume 11 & Number 4 & July/August 2012
Gregory D. Myer et al. Exercise Deficit Disorder in Youth: A Paradigm Shift toward Disease Prevention and Comprehensive Care. American College of Sports Medicine. Volume 12 & Number 4 & July/August 2013
Gregory Walker et al. Physical Inactivity in Youth – Can Exercise Deficit Disorder Alter the Way We View Preventative Care? American College of Sports Medicine. Volume 22 | Number 2
A Educação Física, nesta tentativa de se tornar numa ciência reconhecida, tem conseguido valorizar o seu estatuto numa sociedade competitiva e tecnológica, mas tem-no conseguido através da hipoteca da sua dimensão eclética. O Próprio Manuel Sérgio afirma que a EF é uma "expressão limitadora, estática e não válida (pág. 32)". Afirma ainda que "todo o saber científico é precedido de um saber não científico, uma pré-ciência, constituída por opiniões, ideologias teóricas, obstáculos epistemológicos, tornasse-nos evidente que a EF é a pré-ciência da Ciência da Motricidade Humana (pág. 34)". "O Paradigma emergente, ou holístico, colocou novas questões à EF, gerou a crise, no seio mesmo da ciência normal. E estar em crise, é anunciar o novo e, simultaneamente, denunciar o conservadorismo, o dogmatismo da ciência normal (pág. 35)".
Educação Física estritamente Materialista
Os objetivos e conteúdos dos Programas de EF (AEEF) ficaram reféns das Ciências do Desporto, o que asfixiou parte da sua riqueza, procurando-se nas métricas e nos currículos fechados e normalizados (matérias nucleares), formas de quantificar comportamentos padronizados nos alunos e o seu valor académico através de uma “classificação” da sua performance nas aulas.
| Educação Física | Motricidade Humana |
Paradigma | Cartesiano | Holístico |
Área | Ciências do Desporto | Ciência da Motricidade Humana |
Ciência | Normal, conservadora, dogmática | Fronteira da Ciência |
Finalidade | Literacia Física e Literacia Desportiva | Literacia da Transcendência |
Considerando o enorme esforço e investimento feito por muitos profissionais de EF, pelas Universidades e Faculdades de Desporto e EF e pelas Associações de Professores de EF, na construção de uma identidade científica, objetiva e sólida, avançar para a Ciência da Motricidade Humana representa uma rotura epistemológica demasiado grande e desconfortável.
Pergunta:
Estaremos nós, enquanto classe profissional, preparados para este corte epistemológico?
Resposta:
A resposta ao convite lançado pela rede Motricidade Humana mostra que existe abertura!...
Algumas sugestões?
Contributos como os da rede Motricidade Humana, que iniciam um processo de reflexão nacional em torno dos desafios da Educação Física para o Século XXI.
Promoção de formação vocacionada para uma alteração do sistema de crenças no seio da EF.
Promoção e divulgação de outros Modelos e Métodos de abordagem do exercício físico.
Promoção da Pedagogia Cooperativa: Aprendizagem Cooperativa e Jogos Cooperativos.
Promoção e divulgação de investigação científica na Fronteira da Ciência que nos permita gradualmente abandonar a ciência normal, conservadora e dogmática. É necessário olhar o nosso corpo e o movimento numa perspetiva Multidimensional / Holística ("Transcendente"):
Pierre Weil. 2000. A Mudança de Sentido e o Sentido da Mudança. Editora Rosa dos Tempos.
Mudança de Paradigma
Para podermos comparar o Paradigma Newtoniano-Cartesiano com o Paradigma Holístico recomendo a leitura do livro de Pierre Weil.
Um dos objetivos da Educação Física é a promoção de estilos de vida ativos que promovam a saúde.
Saúde e doença, Educação e Terapia:
Apresento um quadro sinóptico comparativo do antigo e do novo paradigma da medicina e como eles se traduzem em conceitos, sistemas de valores, atitudes e comportamento efetivo do médico.
Paradigma Newtoniano Cartesiano | Paradigma Holístico |
Visão separada e especializada de partes do corpo humano. | Corpo visto como um organismo vivo, cujos sistemas são interligados e interdependentes. |
Corpo visto como uma entidade material | Corpo visto como um sistema energético. |
Separação corpo-espírito | Integração e interação corpo-espírito, ambos vistos como feitos da mesma energia. |
Corpo visto como sistema independente do meio ambiente | Interação constante e integração do sistema psicobiofísico individual com os sistemas sociais, físicos e vitais externos. |
Separação médico-paciente | Interação médico-paciente, vista como um processo energético profundo e amoroso. |
Paciente visto como objeto de diagnóstico e tratamento, e como um mecanismo a consertar | Consciência plena da importância da energia do afeto e do amor na relação médico-paciente, além da eficiência do diagnóstico e do tratamento |
Médico responsável pela cura | Cura vista como fruto da cooperação médico-paciente |
Doença vista como tendo uma causa específica | Doença vista como o resultado de uma desarmonia global, além das causas específicas. |
Doença vista como negativa | Doença como oportunidade de restabelecer o equilíbrio e harmonia. |
Paciente visto como cliente ou objeto de diagnóstico e tratamento | Paciente visto como pessoa |
Saúde vista como ausência de doença | Saúde vista como um estado de harmonia com a natureza interior e exterior |
Normalidade vista sob o critério estatístico | Normalidade vista como estado ótimo de bem-estar, alegria de viver, amor altruísta e consciência plena |
Cérebro visto como órgão secretor da mente e mente vista como um epifenómeno | O córtex cérebral humano é um interferómetro escalar natural. |
Morte vista como o término da vida | Morte vista como transformação do corpo e do espírito |
Na hora da morte o médico afasta-se | Acompanhamento e preparação da pessoa para a passagem |
Predomínio do especialista | Trabalho de equipa interdisciplinar, coordenado por um clínico geral |
Stresse visto como causa da doença | A causa do stresse resulta da fantasia da separatividade, no apego e no ódio. |
Perturbações psicossomáticas percebidas como imaginárias e pouco reais | Perturbações psicossomáticas vistas como produto da interação do corpo-mente-ambiente |
A medicina considerada como um ramo independente da ciência | A medicina como dependendo de informações de todos os ramos da ciência, da filosofia, da arte e da tradição. |
O médico percebido como um intelectual, com habilidades e conhecimentos técnicos | O médico concebido como uma pessoa, tendo desenvolvido harmoniosamente a razão e a intuição, a sensação e o sentimento, a inteligência e a sabedoria, as qualidades da mente e do coração. |
Pierre Weil define a saúde segundo duas perspetivas:
Por um lado é entendida como um estado de equilíbrio energético e de harmonia natural entre o homem, a sociedade e a natureza.
Por outro lado define esse mesmo equilíbrio energético entre o seu corpo, as suas emoções e o seu espírito.
Deste equilíbrio resulta um bem-estar característico.
É preciso reconhecer que esta definição enquadra-se dentro do espírito do próprio Hipócrates e da sua obra. Com efeito, ele já defendia a noção de força vital universal que tudo permeia, tudo anima, que dá vida aos homens e estabelece as defesas naturais nas doenças. Ele insistia nas interações entre a constituição do homem e a constituição do universo.
Parece óbvio que cabe à medicina curar doenças e até há pouco tempo, preocupava-se pouco com a multidão de seres sadios, embora tenha iniciado um novo capítulo onde a prevenção faz parte da sua estratégia.
DGS. Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física 2017. Ministério da Saúde: PDF
Porém todos sabemos que a pressão da doença ocupa a sua atenção e pouco tempo sobra para exercer o papel preventivo preocupando-se sobretudo em "consertar uma máquina estragada" (paradigma mecanicista). Existe por conseguinte uma lacuna evidente a ser preenchida, o da manutenção da saúde. Enquanto o restabelecimento da saúde é uma questão de terapia, no sentido dado por Philon de Alexandria, o de manutenção da saúde parece-nos ser uma questão de educação. Por outras palavras, a doença é da alçada da terapia e a saúde é da alçada da educação, nomeadamente da Educação Física.
A saúde no seu todo precisa de uma articulação e colaboração constante, entre educador e conselheiro de saúde por um lado e o terapeuta por outro. Um verdadeiro organismo de saúde precisaria ter dois departamentos inter-relacionados:
Um departamento de Educação Holística da Saúde, onde atuariam educadores de saúde, isto é, educadores especialmente formados ou adaptados, os quais exerceriam as seguintes funções:
Ministrar ensinamentos sobre a manutenção da saúde, que seriam inspirados ou mesmo integrariam as tradições milenares do yoga, yoga nidra, tai-chi e aiki-do.
Integraria metodologias desenvolvidas no Ocidente tais como relaxamento, sofrologia, alimentação natural, educação física, Educação Somática, dinâmica de grupo, ecologia e a arte de viver em paz.
Aconselhamento individual sob medida.
Um departamento de terapia Holística onde atuariam terapeutas com uma orientação de clínica geral associada às medicinas alternativas e complementares.
O antigo e o novo paradigma da educação
A mudança de paradigma na educação
A sinopse que se segue constitui um resumo das características desta mudança facilitando uma análise e explicação da revolução de paradigma na educação:
| Antigo paradigma | Paradigma Holístico |
Conceito de educação | Informação. Ensino limitado ao intelecto. Instrução orientada para a memória e razão. | Formação. Educação da pessoa. Processo de harmonização e de pleno desenvolvimento da sensação, do sentimento, da razão e da intuição. |
Conceito de estudante | Aluno considerado como "objeto" de ensino, como mecanismo automático de registo e reprodução | Aluno considerado como sujeito estudando, como participante ativo no processo educativo |
Sistema nervoso | Lado esquerdo do cérebro | Lado esquerdo e direito; todo o sistema nervoso cérebro-espinal (cérebro trino) |
Campo de ação | Aquisição de conhecimentos; ênfase sobre o conteúdo. Troca de opiniões | Transformação da personalidade no seu conjunto. Troca de opiniões, de atitude e de comportamento afetivo. |
Agente educativo | A escola como agente da educação intelectual, a família como auxiliar da escola. O professor como corpo "docente" | A família, a escola e a sociedade num esforço concentrado. O educador como animador, facilitador, focalizador ou mesmo catalisador da evolução. |
Conceito de evolução | A evolução pára na adolescência. Maturidade limitada ao intelecto, á capacidade de procriar e de trabalhar. Esta evolução é pessoal. | A evolução continua no adulto. Maturidade vista como um estado de consciência ampliado, harmonia, plenitude e paz, de natureza pessoal e transpessoal. |
Tipo de formação e orientação de valores | Predominância da especialização. Valores pragmáticos. Consumismo, competição, poder, possibilidade celebridade. | Formação geral precede á especialização. Valores pragmáticos e éticos. Simplicidade voluntária, cooperação, generosidade, igualdade, equanimidade. |
Métodos de educação | Exposição verbal, oral, complementada por livros e manuais. Método passivo. Recompensas e punições num sistema seletivo e competitivo. O professor ensina e o aluno escuta. Escola separada da comunidade. O professor "induz" opiniões, atitudes e mudanças de comportamentos. | Pesquisa e trabalho individual e de grupo. Exposições verbais e orais para os estudantes e o professor. Método ativo. Métodos audiovisuais. Exposições, excursões, visitas. O estudante é ativo, pesquisa e ensina os outros. O professor como conselheiro, consulente, orientador. Escola integrada na comunidade. O educador é um exemplo de integração de princípios e comportamento que recomenda. |
Ética
Antigo Paradigma | Novo Paradigma |
Objetivo é manter a ordem social e económica | Objetivo de elevação espiritual e de preparação da transcendência |
Predomínio de valores de segurança, prazer e poder | Valores ligados à defesa da vida sob todas as suas formas |
Valores impostos pela força e coerção ou razão | Valores despertos pelo coração e pela alma |
Repressão do id pelo superego | Libertação do supraconsciente |
Repressão dos grandes valores universais: beleza, verdade e amor | Cultivo dos grandes valores universais: beleza, verdade e amor |
Ignorância dos valores transcendentais: sagrado, graça, plenitude, divino, etc. | Cultivo do despertar da plena consciência e dos valores transcendentais |
Ética limitada a religiosos e sacerdotes. | Integração da ética em todos os seres humanos e profissões. |
LBSE e Perfil do Aluno
Este quadro sinóptico apresenta as palavras chave retiradas destes dois documentos orientadores da Educação.
Sociedade | Democracia | Indivíduo | |
Lei de bases do Sistema Educativo | O sistema educativo responde às necessidades resultantes da realidade social. | Desenvolvimento do espírito democrático e pluralista, respeitador dos outros e das suas ideias, aberto ao diálogo e à livre troca de opiniões, formando cidadãos capazes de julgarem com espírito crítico e criativo o meio social em que se integram e de se empenharem na sua transformação progressiva. | Assegurar o direito à diferença, mercê do respeito pelas personalidades e pelos Projetos Individuais da Existência. Desenvolvimento pleno e harmonioso da personalidade dos indivíduos. Cidadãos livres, responsáveis e autónomos. |
Perfil dos alunos à saída da Escolaridade Obrigatória | Sustentabilidade social, cultural, económica e ambiental. Trabalho Colaborativo. capaz de lidar com a mudança e incerteza. Solidariedade para com os outros. | Questionar a realidade. Aprendizagem ao longo da vida. Respeito pelos princípios fundamentais da sociedade democrática e os direitos, garantias e liberdades. Exercício da cidadania plena. | Múltiplas literacias. Liberdade, autonomia, responsabilidade, Consciência. Respeito pela dignidade humana. |
Questões Fundamentais:
Estará a Educação Física a responder, através da sua proposta curricular, às necessidades resultantes da realidade social?
Investir na autonomia das escolas enquanto Comunidades de aprendizagem (Modelo Derrogatório de Roberto Carneiro "Fundamentos da Educação e da Aprendizagem" - PDF).
Estará a Educação Física a promover competências a nível do trabalho colaborativo? Será que a pedagogia da oposição serve esse propósito?
Será que somos capazes de respeitar os outros e as suas ideias?
Como é que a Educação Física promove nos alunos, através da sua praxis pedagógica, o respeito dos outros e das suas ideias quando o próprio currículo é uma imposição normalizada, uma arbitrariedade cultural, não garantindo espaço e liberdade de escolha?
Será que os alunos podem julgar e criticar criativamente o meio social escolar onde se integram? Será que existe espaço, abertura e liberdade para o transformarem?
Será que os alunos podem questionar a realidade ou devem apenas obedecer e assimilar, sem questionar, os dogmas que lhes são transmitidos? E nós, podemos fazê-lo?
De que forma a Educação Física em particular e a escola em geral orienta a sua prática pedagógica em função dos Projetos Individuais da Existência de cada aluno?
Será que a Educação Física promove competências nas múltiplas literacias?
Estas e tantas outras questões devem ser colocadas:
Como Professores e educadores, quando promovemos o desenvolvimento humano, devemo-nos questionar qual a concepção que está por trás da nossa praxis pedagógica:
Práticas pedagógicas fundamentalmente orientadas para um desenvolvimento estritamente materialista!...
Práticas pedagógicas integrais (Holísticas) orientadas também para o desenvolvimento integral do complexo mente-corpo (consciência) que transcendem o mundo manifesto materialista:
Holopraxias: práticas que levam à vivência holistica (estado de entasis).
O próximo passo educativo deverá reconhecer e introduzir o conceito de "consciência", não apenas a consciência corporal enquanto capacidade de dominar os movimentos corporais através da ligação das estruturas do corpo com o ambiente ou percepção do corpo, mas o facto de que todos estamos ligados através de um campo unificado de consciência.
É unânime entre os professores de educação somática a visão de que o corpo humano é um organismo vivo indivisível e indissociável da consciência. O termo somático vem da palavra grega soma e fornece-nos uma pista para compreendermos o conceito de corpo enquanto experiência:
Corpo: quando o ser humano é observado de fora, por exemplo, do ponto de vista de uma 3ª pessoa, nesse caso, é o corpo que é percebido.
Soma: é o corpo subjetivo, ou seja, o corpo percebido do ponto de vista do indivíduo.
Self (EU): a união de elementos (corpo, emoções, pensamentos e sensações) que constituem a individualidade e a identidade de uma pessoa. E se alguns aspetos do self não estivessem confinados ao aqui e agora? (Dean Radin - "Aquém e Além do Cérebro").
Para os professores de educação somática, a saúde é um estado de bem estar global da pessoa no seu meio ambiente. Segundo esta visão da saúde, os diferentes desequilíbrios das funções fisiológicas, psíquicas, cognitivas e afetivas são abordados pelo professor de educação somática como fazendo parte de um todo somático.
A educação somática é um campo teórico e prático que se interessa pela consciência do corpo e seu movimento.
Educação Física | Educação Somática | Educação para a consciência | |
"Objeto" | Corpo | Soma | Self (EU) |
Olhar | Para fora | Para dentro | Para além de |
Impulsionador | Darel Sidentop | Merleau-Ponty | Pierre Weil |
Modelo | Educação Desportiva | Educação Somática | Holopraxias |
Objetivo | Corrigir o aluno (feedback) | Aluno enquanto veículo da mudança | Transcendência (Estado de consciência ampliado) |
Ensina | Técnica - condicionamento gestual | Descondicionamento gestual | Expansão da Consciência |
Relembro que O licenciado (ou mestre, ou doutor) em motricidade humana é assim o agente de ensino, ou o investigador, ou o técnico, que, no exercício da sua profissão, procura a libertação dos corpos, rumo à transcendência, rumo ao possível e por isso, adota o Paradigma Holístico optando por uma prática pedagógica que integra de forma sistémica o "Corpo" o "Soma" e o "Self".
Um grupo de investigadores do Princeton Engineering Anomalies Research Laboratory desenvolveu um projeto designado por Global Consciousness Project o qual revelou, através de dados recolhidos, quando milhões de pessoas partilham emoções comuns, a consciência coletiva (Noosfera - mente coletiva) é instrumental na transformação do mundo. Estas investigações pedem-nos para redefinirmos as nossas perspetivas filosóficas e científicas acerca daquilo que acreditamos ser, e o que nos torna infinitamente criativos. Uma vez que estamos ligados de forma subtil, possuimos um potencial para nos tornarmos num farol da evolução humana, ou seja, podemos de forma consciente e intencional, participar cooperativamente como uma força transformadora da nossa realidade.
Desde agosto de 1998 que um grupo internacional de investigadores tem trabalhado com uma rede de detetores distribuidos globalmente e os quais são sensíveis à influência das intenções e das emoções. Têm recolhido informações e provas que lhes permitem afirmar que a consciência global, feita aparentemente de mind-stuff (coisas da mente) ou pensamentos e sentimentos coletivos, são detetáveis por estes instrumentos extremamente sensíveis. As descobertas vão para além das meras coincidências ou flutuações aleatórias porque as correlações encontradas são tanto fiáveis como significativas. Os resultados permitiram-nos verificar através de dados, as sincronicidades de Carl Jung atribuidas ao inconsciente coletivo. Quem quiser saber mais sobre estas investigações terá que aprofundar o tema na bibliografia da especialidade com uma mente aberta (10º Simpósio da Fundação BIAL)
Gary E. R. Schwartz and Linda G. S. Russek. 1999. The Living Energy Universe a fundamental discovery that transforms science & medicine.Hampton Roads.
James L. Oshman. 2000. Energy Medicine - the scientific basis. Churchil Livingstone.
James L. Oshman. 2003. Energy Medicine in therapeutics and human performance. Butterworth Heinemann.
Michael Talbot. 1991. The Holographic Universe. HarperPerennial.
Roger D. Nelson. 2019. Connected - the emergence of global consciousness. ICRL Press.
2º Simpósio da Fundação BIAL. Aquém e além do cérebro. Auditório da Reitoria da Universidade do Porto e Casa do Médico, 2, 3 e 4 de abril de 1998. Fundação BIAL.
10. Simpósio da Fundação BIAL. Aquém e Além do Cérebro. Casa do Médico - Porto, 26 a 29 de março de 2014. Fundação BIAL: PDF (podemos ler neste documento uma apresentação sobre o Projeto Global Consciousness Project) LINK
11.º Simpósio da Fundação BIAL. Aquém e Além do Cérebro. Casa do Médico - Porto, 30 março a 2 de abril 2016. Fundação BIAL: PDF

(pág. 175) Imagem baseada no livro de Michael Murphy. 1992. The Future of the Body - Explorations into the further evolution of human nature. Tarcher Putnam.


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