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Temas da Motricidade Humana

Pré-ciência da Ciência da Motricidade Humana.

 

É opinião nossa que a expressão EF é atualmente uma expressão limitadora, estática e não válida. (...) porque todo o saber científico é precedido de um saber não científico, uma pré-ciência, constituída por opiniões, ideologias teóricas, obstáculos epistemológicos, torna-se-nos evidente que a EF é a pré-ciência da Ciência da Motricidade Humana (Cinantropologia). (...) Paradigma Emergente, ou Holístico, colocou novas questões à EF, gerou a crise, no seio mesmo da Ciência Normal. E estar em crise, é anunciar o novo e simultaneamente, denunciar o conservadorismo, o dogmatismo da ciência normal. (...) O Homem é um ser itinerante e práxico a caminho da Transcendência. (...) O licenciado (ou mestre, ou doutor) em Motricidade Humana é assim o agente do ensino, ou o investigador, ou o técnico que, no exercício da sua profissão, procura a libertação dos corpos, rumo à Transcendência, rumo ao possível (Manuel Sérgio).

Conceção Sócio-Crítica

Quando uma instituição não realiza os objetivos pelos quais é moralmente responsável, podemos dizer que sofreu um fracasso moral. Quando a Academia, as APEFs e o Sistema Educativo optam pela monocultura desportiva assumem um papel ideológico não permitindo uma abordagem eclética na promoção da literacia física, muito diferente de literacia desportiva (conceção de socialização acrítica do desporto). A Escola tem que adotar uma Conceção Sócio-Crítica na medida que deve ser vista como um contexto de inovação e de transformação sociocultural.

O Paradigma Holístico (relembrando, do grego Holos: totalidade):

 

Representa uma revolução científica e epistemológica que emerge como resposta à perigosa e alienante tendência fragmentária e reducionista do antigo paradigma (Cartesianista). É um novo sistema de aprender a aprender que sustenta o florescente movimento holístico mundial. Como assinala Pierre Weil, a visão holística busca dissolver toda a espécie de reducionismo: o científico, o somático, o religioso, o niilista, o materialista ou substancialista, o racionalista, o mecanicista e o antropocêntrico, entre outros.

Pressupostos do Novo Paradigma da Educação Física

​Flexibilidade do Programa Escolar:

 

Para maximizar a contribuição da EF para o desenvolvimento de hábitos positivos ao longo da vida, os currículos devem ser flexíveis e abertos à adaptação, para que os professores sejam empoderados a adequar a oferta para atender às diversas necessidades dos jovens com os quais estão a trabalhar. Para tornar significativos os currículos de EF para crianças e jovens do século XXI, teorias inovadoras de aprendizagem e novas perceções da disciplina devem ser consideradas, avaliadas e implementadas (Comissão Europeia, 2008). Dada a ampla gama de resultados, educativos e outros, frequentemente reivindicados para a EF, argumenta-se que os Programas Tradicionais de EF (AEEF) adotam uma abordagem "Um tamanho serve para todos" e, ao fazê-lo, não são capazes de atingir qualquer um destes resultados (Diretrizes em Educação Física de Qualidade Para Gestores e Políticas publicado, UNESCO).

Modelo Derrogatório:

 

“A Escola em Portugal tem sido considerada um Terminal Burocrático do Estado. (...) será preciso resgatar a escola das garras burocráticas do Estado. 

  1. Desmonopolizar a Educação é condição da sua desmassificação (…)”. 

  2. A promoção da Escola enquanto contexto de inovação e de transformação sociocultural faz-se restituindo a escola às suas comunidades locais de pertença, a qual tem total liberdade para criar e levar por diante o modelo educativo que a comunidade quiser (Roberto Carneiro, “Fundamentos da Educação e da Aprendizagem” - PDF).

  3. Roberto Carneiro refere ainda que “há anos que os responsáveis pela Educação falam dessa devolução da escola à comunidade. Mas será que o Estado consegue abrir mão de um sistema que é tão importante para o controlo da sociedade? O papel do Estado é servir a sociedade, não de a controlar”. O Estado deve definir os programas mínimos. Eu defendo há muitos anos que os programas de ensino devem ter três componentes, uma componente nacional (20%), uma componente regional (30%) e uma componente local (50%)”. A Rede Motricidade Humana defende que 80% deve pertencer à Componente Local (Comunidade) e 20% Nacional (Programas Mínimos - Linhas Gerais de Orientação)

 

Ciência do Indivíduo:

 

Qualquer tentativa significativa que procure desenvolver a ciência do indivíduo começa necessariamente por ter em consideração a variabilidade individual que é pervasiva em todos os aspetos do comportamento e em todos os níveis de análise.

A Educação Física procura validar a avaliação dos alunos na Aptidão Física com base na comparação da sua prestação com Tabelas de Valores de Referência (Fitescola). Estes valores de referência são considerados valores normativos para as diferentes dimensões da aptidão física. Por exemplo, a caraterização percentílica dos percursos realizados no teste de Vaivém, ajustando a informação em função da idade e do sexo dos avaliados, permite identificar a trajetória evolutiva das crianças, dando a oportunidade de caraterizar os resultados obtidos em função da operacionalização da informação percentílica:

  • Muito Bom ≥ P90

  • P75 ≤ Bom < P90

  • P25 ≤ Médio < P75

  • P10 ≤ Fraco < P25

  • Muito Fraco < P10

 

Porém, ao longo das últimas duas décadas, uma acumulação significativa e substancial de evidências tem vindo a mostrar a dificuldade em se inferir o que quer que seja acerca dos indivíduos a partir de conclusões tiradas com base numa população ou amostra. Molenaar (2004) argumenta que tais inferências só são possíveis em condições muito estritas designadas por pressupostos ergódico que nunca se adequam para os indivíduos. Para além disso, as evidências são crescentes e vão no sentido de provar que, com maior frequência, do que se pode supor, as conclusões tiradas com base em amostras, representam na melhor das hipóteses, um pequeno conjunto de indivíduo e no pior dos casos, são artifícios estatísticos que não representam ninguém. L. Todd Rose et al.

Todd Rose “The end of average – how we succeed in a world that values sameness”, mostra que tudo o que pensamos acerca da prestação média está errado. Na verdade, a nossa compreensão uni-dimensional do sucesso, a nossa procura do resultado médio, nível médio, talento médio, tem subestimado de forma profunda o potencial humano. Todd Rose refere que a nossa forma de interpretar e quantificar o sucesso dos alunos através de uma média, seja uma “nota”, o resultado numa prova normalizada (ex: fitescola) ou um ranking é um mito. Mito da Homogeneidade na aplicação dos programas de Educação Física. O modelo de conceção dos programas de Educação Física está vocacionado para formar o “Perfil do Aluno Médio”. Nós ainda projetamos os Programas de EF (AEEF), os nossos ambientes de aprendizagem, como os nossos livros didáticos, estilos de ensino e a avaliação para o aluno médio. Nós designamos esta estratégia de “adequada à idade” (Idades Sensíveis) e achamos que é suficientemente boa para os alunos, mas não é!” “Se desenhamos um ambiente de aprendizagem para a média, fazemo-lo para ninguém!” (Todd Rose et al., 2013; “The Science of the Individual”, Mind, Brain, and Education).

Num documento publicado pela UNESCO em 2014, intitulado Diretrizes em Educação Física de Qualidade (EFQ) para Gestores de Políticas pode ler-se no ponto 3.2.1 - Flexibilidade Curricular o seguinte: os Programas Tradicionais adotam uma abordagem “um tamanho serve para todos” e ao fazê-lo, não são capazes de atingir os resultados que se propõem. Muitos dados contemporâneos indicam uma deterioração percebida nas atitudes dos estudantes em relação à EF, devido ao domínio dos desportos competitivos e atividades baseadas no desempenho.

 

Ecletismo: 

 

A sua essência está na liberdade de escolher e conciliar o pensamento de diversas correntes filosóficas, psicológicas e pedagógicas, opondo-se a todo e qualquer dogmatismo e ou radicalismo. A finalidade do ecletismo é atingir a verdade e harmonizar teorias que são aparentemente opostas, pretendendo formar um todo (Holístico), buscando a coerência dos elementos escolhidos em diversos sistemas, escolhendo de cada um, a parte que parece mais próxima da verdade.​

 

Promoção de AF ao Longo da Vida (Longevidade): 

 

Dawn Penny e Mike Jess no artigo Physical Education and Physical Active Lives: A lifelong approach to curriculum development perguntam: o que é que um estilo de vida ativo envolve exatamente? Se queremos desenvolver propostas que estabeleçam relações realistas entre a Educação Física e as agendas de Atividade Física para a população, precisamos:

  1. Primeiro, construir uma visão clara sobre o que envolve um tal estilo de vida.

  2. Segundo, revisitar o tipo de competências, conhecimentos e compreensão necessários que os jovens precisam adquirir para manter estilos de vida ativos.

Suzanne Lundvall no seu artigo Physical literacy in the field of physical educatione, a challenge and a possibility refere que Margaret Whitehead é vista como "a" académica que trouxe a literacia física para a ordem do dia". Originalmente, definiu a literacia física como o corpo vivido e a dimensão incorporada da existência humana. A capacidade do indivíduo para desenvolver a capacidade de refletir sobre a natureza dos seus desempenhos e a intencionalidade corporal faz parte do que o conceito abrange. Um ponto chave é, portanto, a relação íntima do conceito entre perceção e movimento em relação à intencionalidade corporal. Em 2010, a autora refinou o conceito de literacia física como "a motivação, a confiança, a competência física, o conhecimento e a compreensão para manter a Atividade Física ao Longo da Vida (AFLV)". Colin Huggs e col. Developing Physical Literacy: a literacia física é a motivação, a confiança, a competência física, o conhecimento e a compreensão para valorizar e assumir a responsabilidade pelo envolvimento em atividades físicas para toda a vida.

 

 

Qual é o quadro de referências que deve alicerçar o modelo de Atividade Física ao Longo da Vida (AFLV - Longevidade)? 

Novo Paradigma da Educação Física - A AFLV pode ser conceptualizada como tendo 4 dimensões que devem alicerçar as AEEF:

RECREACIONAL

Enquanto lazer, a qual para muitos, é uma atividade com orientação social.

FUNCIONAL

Responde às exigências das tarefas diárias, sejam profissionais ou domésticas.

SAÚDE

Relacionada com a aptidão física, bem-estar e/ou reabilitação.

PERFORMANCE

Relacionada com a auto-superação e/ou sucesso nos ambientes exigentes e/ou competitivos (Adversidades).

Temas

Aprender por Medida e a Metodologia da Trabalho por Projetos - O ensino democrático centra-se nas estratégias e na auto-regulação que apela ao controlo sobre os processos cognitivos, metacognitivos e motivacionais que permitem conferir  um significado pessoal ao ato de aprender.

Jogos Cooperativos e Game Designer - Os Programas de Educação Física, para serem considerados Ecléticos, também se devem organizar em torno das Ciências e Pedagogia Cooperativa que se organiza em torno dos Métodos de Aprendizagem Cooperativos e dos Jogos Cooperativos cuja essência é a Cooperação. Grande parte dos jogos estimula o confronto e não o encontro entre os jogadores – a “repedagogização” da EF deve privilegiar o encontro e não no confronto.

Atividades de Ligação Profunda com a Natureza - Richard Louv no seu livro “Last Child in the Woods” introduz o conceito de Desordem de Déficit de Natureza (DDN). O princípio do Método Natural (Treino Natural - Método Hébert©) é apenas fruto da comprovação das leis da natureza para o desenvolvimento físico.

Aptidão Física e o Treino em Circuito - O Projeto pedagógico "Personal Training" Incentiva a conceção, exploração e  implementação de ambientes inovadores de ensino e aprendizagem vocacionados para o desenvolvimento da aptidão física.

Psicomotricidade e o Brincar - Peter Gray afirma que o “declínio da brincadeira está relacionado com a subida de psicopatologias nas crianças e adolescentes”. As crianças foram desenhadas, pela seleção natural, para brincar. Sempre que as crianças têm liberdade para brincar, elas fazem-no.

Ritmo e Expressão, Educação Somática e percussão Corporal - A dança é uma das atividades que melhor explora o potencial plástico, expressivo e rítmico do movimento, em íntima ligação com a composição musical que lhe dá suporte, mas é também, fundamentalmente, o resultado da combinação dos diferentes elementos do movimento.

Soma é o corpo subjetivo, ou seja, o corpo percebido do ponto de vista do indivíduo.

Inteligências Múltiplas e as Competências Sócio-Emocionais - Os Programas de Aprendizagem Emocional e Social (PAES), são concebidos para complementar o currículo de Educação Física (no nosso caso), através do ensino das destrezas emocionais e sociais que contribuem para um melhor ajustamento emocional e social e o maior sucesso académico.

As emoções são frequentemente sentidas no corpo e o feedack somatosensorial despoleta as experiências emocionais conscientes. Lauri Nummenmaa e os seus colaboradores, no seu estudo dos mapas corporais das emoções, construíram mapas das sensações corporais associadas às diferentes emoções usando um método topográfico único de auto-descrição.

Ciência do Coração e a Matriz de Consciência - A Variabilidade da Frequência Cardíaca espelha uma dança dinâmica entre os dois maiores ramos do sistema nervoso autónomo, o simpático e o parassimpático, cuja função é controlar as funções de virtualmente quase todos os órgãos e sistema fisiológicos do nosso corpo. A VFC (Variabilidade da Frequência Cardíaca) está associada à Coerência Fisiológica.

Educação para a Paz e as Atividades Body & Mind - A educação para a paz é o processo de promoção de conhecimentos, competências, atitudes e valores necessários para criar mudanças no comportamento, que permitam às crianças, aos jovens e às pessoas adultas prevenir conflitos e violência, tanto explícitos como estruturais, resolver os conflitos de forma pacífica e criar as condições propícias à paz, seja a nível interpessoal, intergrupal, nacional ou internacional.

Para que a disciplina de Educação Física promova os valores de uma cultura de paz terá que iniciar um processo de transformação interno (Mudança de Paradigma) e definir como objetivos a "arte e a ciência de viver em paz!" - A Roda da Paz.

​Os processos construtivos de resolução de conflitos são semelhantes aos processos cooperativos de resolução de problemas e, em contrapartida, os processos destrutivos de resolução de conflitos são semelhantes aos processos competitivos. A investigação também mostrou que a resolução de conflitos construtiva inerente aos jogos cooperativos é superior em resultados comparativamente aos processos competitivos com o mesmo propósito.

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